A Colher na Boca / Herberto Helder
Português
Herberto Helder
Ática
Ano: 1961
Nº Edição: 1ª
Descrição Física: 130 [5] p. ; 20 cm
Exemplar bem conservado
Raríssima edição primitiva do segundo livro de Herberto Helder.
A obra A Colher na Boca, publicada em 1961, aborda dois temas essenciais e transversais a toda a obra herbertiana: a relação entre o poeta e a sua criação artística e a representação da figura feminina enquanto elo de ligação a todos os elementos do mundo. No texto Poema, o sujeito poético caracteriza a obra poética como uma unidade carnal, um ser autónomo, atribuindo uma extrema importância à palavra, descrevendo-a como o elemento necessário para a unidade. No final deste texto, brota uma relação íntima entre o poeta, o poema, a natureza e a casa:
“Estou deitado no meu poema. Estou universalmente só,
deitado de costas, com o nariz que aspira,
a boca que emudece,
o sexo negro no seu quieto pensamento.
batem, sobem, abrem, fecham,
gritam à volta da minha carne que é a complicada carne
do poema.”
Como já foi referido, a mulher é o núcleo da poesia herbertiana e apresenta-se como a criadora, a geradora e impulsionadora de vida. Assim, a mulher é o princípio e o fim de todas as coisas. A importância atribuída ao universo feminino estará provavelmente relacionada com a morte prematura da mãe do poeta. A figura maternal apresenta-se, assim, como a maior inspiração para o sujeito poético, sendo que o poema Fonte é o expoente de toda a veneração à figura maternal. Assim, torna-se premente assinalar a importância extrema da metáfora “fonte” na poesia de Herberto Helder: a água é o recurso que concede vida a todo o mundo, além disso, como referiu Juliet Perkins, na sua obra The Feminine in the Poetry of Herberto Helder, “water protects the unborn child . Portanto, assim como a água concede vida a todos os seres, a mãe também gesta e nutre o seu filho e, além disso, assume-se como fonte de inspiração, alimentando a vida poética.