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domingo, 27 de janeiro de 2013

O rei mono contra o demónio de Osso Branco. Wang Sing-Pei

O rei mono contra o demónio de Osso Branco

adaptação de Wang Sing-Pei da célebre odisseia
Peregrinação ao Oeste

de Wu Cheng`en

Obra ilustrada através dos desenhos tradicionais chineses por Chao Jung-Pen e Chien Siao-Tai

(1973-1975)
Edições Cultura Proletária
tiragem de 6000 exemplares
Lisboa
118 p
Ilustradas a preto e branco


Jornada ao Oeste é conhecida no Ocidente como "a história que inspirou a manga ( histórias aos quadradinhos Dragon Ball".

Mas a lenda chinesa do homem-macaco Sun Wukong, que acompanha a jornada do monge Tang Seng, ocupa um posto muito mais importante na história do Oriente. É um épico fundador, influenciando o pensamento oriental da mesma forma que a Ilíada e a Odisséia de Homero fizeram na cultura greco-latina.

Acima de toda a importância histórica Jornada ao Oeste é uma história pra lá de divertida - cheia de intrigas, perigos e tentações. Monstros e outras criaturas malignas estão atrás do monge Tang Seng, afinal, basta comer um pedaço da sua carne para ganhar a vida eterna. Para combater tais ameaças, o guarda-costas Sun Wukong vai se utilizar dos seus inúmeros poderes, dignos de um Super-Homem: imunidade contra fogo, água e qualquer instrumento cortante, pode voar montado em nuvens e névoas, carregar uma montanha em cada ombro, ficar invisível e transformar-se em qualquer coisa, seja animal vegetal ou mineral.





A lenda da Jornada ao Oeste vem da dinastia Tang, (618-917), baseada na peregrinação do monge Xuan Zang para a Índia, em busca de escrituras sagradas do budismo. Porém a versa da história que se tornou mais famosa foi na versão de Wu Cheng´en, escrita no século XIV. As Edições Cultura Proletárias lançaram Jornada ao Oeste em versão ilustrada, com o texto integral de Wu Chen´em traduzido diretamente do chinês. 

Neste volume da versão ilustrada de Jornada ao Oeste, a clássica narrativa da viagem empreendida pelo monge Xuan Zang e seus companheiros, Sun Wukong, Zhu Bajie e Sha Seng, em busca das escrituras sagradas do budismo alcança seu ponto máximo, com o grupo de peregrinos tendo que enfrentar diversos seres demoníacos para prosseguir em sua missão. Escrita originalmente no século XVI, por Wu Cheng'en, a obra que inspirou esta versão em quadrinhos representou a unificação das inúmeras lendas surgidas a partir da história real da peregrinação do monge Xuan Zang até a Índia. 

O romance de Wu Cheng'en tem como protagonista Sun Wukong, o Rei dos Macacos e um dos discípulos de Xuan Zang. Nascido de um ovo de pedra, Sun Wukong recebeu o segredo da imortalidade, mas foi expatriado para o mundo dos mortais e aprisionado sob uma montanha como penitência por seu comportamento. Quinhentos anos depois, foi libertado para proteger o monge dos bandidos e demónios que aparecessem em seu caminho, e, assim, conquistar o perdão definitivo. 

A partir do surgimento de Jornada ao Oeste, Sun Wukong, o Rei dos Macacos, tornou-se o mais famoso e amado herói de toda a literatura chinesa. O humor e a audácia desse macaco humanizado, que cavalga nuvens e consegue se transformar em qualquer coisa, tornaram-no tão importante para os chineses que sua imagem foi explorada pela propaganda oficial durante os dez anos da Revolução Cultural de Mao Tse-Tung. 

Ainda hoje existe uma grande variedade de desenhos animados, videogames, mangas e filmes sobre o personagem, e um Festival Sun Wukong é celebrado anualmente na China.

A popularidade do macaco espalhou-se pelo resto do Oriente e chegou ao Ocidente, em parte devido, como se disse. ao enorme sucesso de Dragon Ball, manga e animação que tem como protagonista Son Goku (nome que os japoneses dão a Sun Wukong), um garoto travesso que gosta de cavalgar nuvens.


Um verdadeiro tesouro histórico e cultural.

Capa brochada, com pequeno rasgo. Interior em bom estado
Raro . Obra de coleção
Dedicatória de oferta no verso da capa datada do Natal de 1975

Preço: 40€ + portes

Pedidos a 2mitodesisifo@gmail.com ou em www.leiloes.net

3,40€ em correio registado nacional continental ou 1,20€ em correio normal nacional continental



Desenhos Eróticos: texto e seleção de Joaquim Afonso

Desenhos Eróticos 

texto e seleção de Joaquim Afonso

Coleção Museu Compacto

Encadernação de Brochura (Capa Mole)

Editora Lisma

 Lisboa

255 p.

Dimensões 14.7 x 16.2 cm


Um pequeno painel do desenho erótico e texto de apresentação de seus autores. No prefácio as palavras de Mario Vargas Llosa:

" O erotismo tem a sua própria justificação moral, porque significa que o prazer é suficiente para mim; é uma afirmação da supremacia do indivíduo."





Livro de bolso, capa cartonada, como novo.
Raro 

Preço: 20€ + portes

Pedidos a 2mitodesisifo@gmail.com ou em www.leiloes.net

3,40€ em correio registado nacional continental ou 1,20€ em correio normal nacional continental




Villa Celeste - Hélia Correia - Editora Contraponto

Villa Celeste - novela ingénua
Hélia Correia
Edição Contraponto
Ilustrações de Luis Manuel Gaspar
Logotipo da Contraponto - Paulo Guilherme d'Eça Leal
2ª edição (Março de 1999)
94p .

Livro raro (de coleção)



Edição Ulmeiro
Capa António Pimentel
Coleção imagem do corpo 26
1ª edição 1985
50p .





Sobre a obra editada pela Contraponto (Fac-simile da carta e transcrição de Isabel castanheira - Blogue Cavacos das Caldas)

"Palmela, 5 de Abril de 1999

Dona Maria Isabel Castanheira - tenho aqui à m/ frente o Gil Vicente. Não é o do Pranto da Maria Parda, essa bêbada. Mas o gato da Loja 107 em foto, ao colo da Hélia Correia.

E aí está! - vou mandar-lhe daqui a dias, talvez ainda esta semana, um exemplar de Villa Celeste, uma edição minha. A Hélia falou-me na sua livraria, para um lançamento caldense. Já não sei onde fica a sua casa. Não é do meu tempo caldense, que vai de 1927 a 1968, + ou -. Morei na General Queiroz, na Bordallo Pinheiro, junto do Parque e na Estrada do Coto (?), casa dos Badejas. Nos anos 60 havia uma livraria na rua das Montras (o rapaz morreu, doença do coração) aí em 1966, 67. E uma livraria na Praça, que passou para a FRAMI (o - um dos, o Rogério - Caiado até é meu compadre).




Seja como for. Pela confiança que a Hélia Correia demonstrou com o Gil Vicente, creio que lhe será grato (além do mais) receber o livro e cooperar no lançamento. A Hélia disparou para o estrangeiro, em férias pascais, eu ainda não lhe disse nada, aqui fica o meu pedido. Mais: tenho nas Caldas umas dezenas de amigos. Um tinha. Morreram dois: o dr. António e o irmão, o dr. Custódio Maldonado Freitas (ainda conheci o velho Freitas, que me dava injecções de cálcio Sandoz no rabo).



A nosso editora, Contraponto, vive de assinantes por todo o País. Apenas ponho (e poucos) livros em meia dúzia de livrarias (Lx, Coimbra, Porto).




E estou num LAR DE IDOSOS e sem forças para ir combater no Kosovo... Mas queria que o bonito livro da Hélia chegasse ao maior número possível de leitores. Ela (apenas a vi, aqui, e foi quando ela alvitrava o lançamento aí) pareceu-me tímida, acanhada, com exagerados escrúpulos de julgarem que se está a impingir. Isto é: de se parecer com algumas damas literatas (catatuas, lhes chamo) que se pavoneiam por todo o lado e estão em todas (a Dona Lídia Jorge por ex.). Não será o caso, mas há um mínimo de esforços a fazer para quebrar aquela barreira de silêncio que se instala por inércia nossa.
Os meus cumprimentos."
Luiz Pacheco  

Sobre a mítica Editora Contraponto de Luiz Pacheco

Fundação da Contraponto

Luiz Pacheco cria a Contraponto: Edições e Distribuição em 1950 (Setembro), na rua Rafael Andrade, nº12 1º, Lisboa. Motivado pela ideia de combate ao regime vigente e pela luta contra as instituições. Concebe uma editora cujo objectivo era a denúncia da situação política, social e literária. O trabalho de escrita, revisão, tratamento gráfico e distribuição era, todo ele, feito pelo Luiz Pacheco. Contava com a colaboração de alguns amigos que se propunham para realizar certas tarefas e, por outro lado, garantir a publicação das suas obras.

Inicia a sua actividade com a publicação do primeiro número de "Cadernos de Crítica e Arte" sob organização e direcção de José Nunes Ferreira e Pitta Simões, tiragem de 2000 exemplares mas vendeu-se muito mal. 

Artigos publicados: "Sobre a poesia de Carlos de Oliveira"; "Apontamento" de Augusto Abelaira; "O Presidente" de Pacheco; entre outros.

Colaboradores: Augusto Abelaira, Jaime Salazar Sampaio, Arlinda Franco Oliveira, Vasco Vidal, Eugénio Morais Cardigos.

Em 1952 saiu o segundo número de "Cadernos de Crítica e Arte" , com uma tiragem de 1000 exemplares. Desta vez, as vendas superaram as expectativas.

Artigos publicados: Tentativa de publicar uma peça de Garcia Lorca mas foi cortada pela Censura. É alterada por poemas de Pedro Oom e Carlos Drummond de Andrade.

Colaboradores: Luiz Pacheco, Tomás Ribas, Paulo-Guilherme de Eça Leal, Alfredo Margarido, Renato Ribeiro, Manuel Nunes da Fonseca, António Nuno Barreiros, Francisco Aranda, Florentino Goulart Nogueira, Egito Gonçalves.

Em 1962 publica o terceiro, e último, número de "Cadernos de Crítica e Arte". Por questões económicas este número só contém as páginas 1, 2, 7 e 8. A tiragem foi de 1000 exemplares mas 500 ficaram na tipografia da Sertã.

Colaboradores: Luiz Pacheco, Artur Ramos, Ernesto Sampaio, António José Forte.


O primeiro livro publicado pela Contraponto foi em 1951, intitulado "Discurso sobre a reabilitação do real quotidiano" de Mário Cesariny de Vasconcelos.

Artigos presentes no arquivo da Censura:

A 11 de Setembro de 1953 recebe uma notificação do Grémio Nacional de Editores e Livreiros com a seguinte mensagem: "Acresce o facto de estar editando obras sem autorização dos autores, conforme reclamação apresentada por alguns deles que se dirigiram a este Grémio na suposição de que dispuséssemos dos meios repressivos para por cobro a essa usurpação" . Também com a mesma data recebeu outro aviso relativo à falta de registo nos serviços do Grémio Nacional como editorial .

Em jeito de elucidação, António Maria Pereira (Presidente da Direcção do Grémio Nacional dos Editores e Livreiros) esclarece os vários avisos por parte da Direcção do Grémio Nacional, num seu cartão de visita, redigindo umas singelas palavras. Passo a citar: "Com cordiais cumprimentos cumprindo a sua missão de Director do Grémio, perante este caso, esclarece a título confidencial, que tanto autores como editor pertencem aos chamados "surrealistas" grupo de jovens poetas incompreendidos por quem aprecia João de Deus e Augusto Gil, mas pessoas inofensivas" . 11/09/55 (?)

No dia 7 de Outubro de 1953 enviou um requerimento solicitando desenvolver uma editora designada "Contraponto", destinando-se "à publicação de dois pequenos folhetos anuais de poesia e literatura, sem fins comerciais e unicamente literários". Este pedido foi aprovado nos finais de 1953 .

No entanto, a 7 de Dezembro de 1957 - Luiz Pacheco informa os Serviços da Censura que suspendeu a actividade como editor .



Colecção Teatro no Bolso:

Em 1956 divulga os primeiros números da Colecção Teatro no Bolso, em pequeno formato, que acompanhavam o mundo teatral em Lisboa. Cada volume era vendido a 10 escudos nas livrarias e 5 escudos à porta dos teatros. Em promoção especial, séries de três números pela módica quantia de 15 escudos. Os volumes avulsos custavam 6 escudos. Juntamente com Cacilda Becker, em 1959, percorre o país vendendo estas pequenas publicações com autores consagrados, como por exemplo: Henrik Ibsen; Molière; Alfonso Castelao; Luigi Pirandello; Marquês de Sade; Almeida Garrett; Camilo Castelo Branco; Guillaume Appolinaire; entre outros. Em paralelo, a Companhia do "Teatro de Sempre" também publicava peças de ilustres autores, que facultaram algumas traduções a Luiz Pacheco (funcionário da Inspecção dos espectáculos). Esta Companhia pertencia ao Teatro Avenida de Lisboa, sob a direcção artística de Gino Saviotti e colaboração de Laura Alves e Giuseppe Bastos.



Delfim da Costa:

Nos anos 60, algumas obras foram publicadas com o pseudónimo Delfim da Costa (o cangalheiro da cidade). A origem deste pseudónimo colectivo é contada no verso de um panfleto intitulado "Caca, cuspo e ramela", que passo a citar: "Juntaram-se Manuel de Lima, Luiz Pacheco e Natália Correia, em casa desta, e fizeram um papel com pretensões a anónimo, assinado Delfim da Costa (o cangalheiro da cidade) e titulado Requiem pelos corpos penados mais em destaque no cemitério ulissiponense. Outros artigos que compõem esta colecção: 30 coplas de pé quebrado compostas, musicadas, cantadas por Delfim da Costa, o cangalheiro da cidade; Ária de Delfim da Costa: pro domo sua."


Logotipo:
O criador do logotipo da Contraponto foi o Paulo Guilherme d'Eça Leal. Este está presente na maioria das publicações produzidas pela editora. No caso dos folhetos, panfletos e em stencyl o nome da editora por vezes não surgia no pé da capa ou página ou surgia, em letras normais.

Assinantes:

Levantamento de algumas regiões, às quais pertenciam os respeitantes assinantes e contribuintes da editora, nos anos 90. Quer o número de assinante, quer a quota recebida eram apontados atenciosamente num caderno. Luiz Pacheco enviava postais RSF a todos os assinantes presentes na sua lista e conhecidos, avisando-os da nova publicação. Porém, existe um postal que circulou entre os fiéis assinantes que não passou de um mero postal. O título mencionado no postal - As minhas cinco chagas, de mestre Almada Negreiros (ficção e memórias) - não chegou a ser publicado nem produzido. No entanto, recebeu as contribuições, que serviram para financiar a obra seguinte.

Sobre a Ulmeiro:

Livrarte/Ulmeiro"... 40 anos a resistir

 ( de http://mercadodebemfica.blogspot.pt/2009/01/livrarte-40-anos-resistir.html

Em Benfica, existe ainda um Alfarrabista - repleto de História e de memórias de lutas por uma Causa - que teima em Resistir, depois de 40 anos...




Situada na Avenida do Uruguai, no Nº 13A A, a “Livrarte” iniciou, formalmente, o seu negócio na venda de livros, há cerca de 29 anos (por volta de 1969): “(...) iniciado pela “Ulmeiro”, que tinha Editora e a Livraria (...)”, como nos contou a D. Lúcia Ribeiro, proprietária desta casa.

“Editora Ulmeiro” (como se chamava, então, à loja que alguns anos mais tarde viria a dar origem à“Livrarte”) poderia ser considerada, em finais dos anos 60, como uma Editora de vanguarda, na medida em que as suas publicações eram, essencialmente, livros de carácter político e interventivo, de ideais opostos aos do regime então vigente.

Nessa época conturbada do Salazarismo, e antes do 25 de Abril de 1974, esta era uma livraria “(...) marcadamente de contestação (...)”, segundo palavras da D. Lúcia.

Enquanto que a “Editora Ulmeiro” publicava livros de carácter considerado revolucionário para o Regime, a sua Livraria assumia um papel de núcleo de concentração dos intelectuais que queriam fazer ouvir as suas vozes contra o governo.
“Há ali um período em que era só política, pronto. Aí foi o auge da política. A gente queria era saber alguma coisa de política (...)”, e na “Ulmeiro” começaram a realizar-se sessões culturais de cariz político-informativo.

Nesta fase em que todos estavam de algum modo ligados à política (quer quisessem ou não, pois as suas vidas eram sempre regidas pela mesma), as sessões culturais de música e teatro, em que nomes sonantes como o de Carlos Paredes, Zeca Afonso e Mário Viegas participaram, sucediam-se umas atrás das outras: “Olhe, não tem conta as sessões que nós fizemos aqui culturais!”, diz-nos a D. Lúcia Ribeiro com uma certa réstia de saudade na voz.

Apesar desta sua acção, nunca foi partidária, nem esteve ligada a nenhum movimento político ou de contestação, mas as pessoas sempre associaram a Livraria aos movimentos contra o Regime que antecederam o 25 de Abril; como nos refere a D. Lúcia, “(...) não esteve ligada a nada, embora as pessoas nos conotassem, mas isso era inevitável!”, porque “Numa fase em que (...) toda a gente estava ligada à política (...) os que eram de direita diziam que éramos de esquerda, os que eram de esquerda como não éramos do PC ou não sei quê, diziam que éramos de direita.” 

O próprio Zeca Afonso era amigo pessoal da D. Lúcia e do Sr. José Ribeiro (marido da D. Lúcia), facto que devido à importância que o seu nome teve na história do 25 de Abril fez com que a memória colectiva existente na zona de Benfica assimilasse, até aos nossos dias, a “Livrarte” como pertença de familiares do cantor. No entanto, o parentesco existente entre Zeca Afonso e o Sr. José Ribeiro era, como nos explicou a D. Lúcia e tivemos ocasião de constatar quando o seu marido entrou na loja (aquando de uma das nossas Entrevistas), “(...) só a semelhança física (...)” “(...) uma grande relação de amizade e de parecença intelectual, a postura na vida (...)” entre ambos “(...) era muito parecida”.





Depois do 25 de Abril de 1974, quando os ânimos políticos e contestatários acalmaram, estas sessões culturais deixaram de ter razão de existir e “(...) aboliu-se isso completamente”. Mas a principal questão continuava a ser “(...) intervir culturalmente (...)” na sociedade, o que só foi possível com muitas outras sessões ao nível de autógrafos de autores e de leituras de poesia. Retomando-se, assim, o prosseguimento normal de uma Editora/Livraria.

Quatro anos após o 25 de Abril, em 1978, “(...) fizeram-se duas firmas diferentes... a “Ulmeiro” remeteu-se para o seu campo de Editora, que é aqui (...) no prédio ao lado; e a Livraria constituiu-se portanto, com o nome de “Livrarte” (...) Embora ficando ligados do ponto de vista de auxílio, digamos”. A D. Lúcia Ribeiro ficou à frente da “Livrarte”, enquanto o seu marido, o Sr. José Ribeiro permaneceu mais ligado à “Ulmeiro”e ao ramo editorial.

Livro da Contraponto: edição de bolso, capa cartonada, como novo.
Raro - Já peça de coleção
1ª edição da Ulmeiro há muito igualmente esgotada
Vendem-se juntas ou separadamente

Preço da edição Contraponto: 45€ + portes

Preço da edição da Ulmeiro: 35€ + portes

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3,40€ em correio registado nacional continental ou 1,20€ em correio normal nacional continental



The Communist Hypothesis - Alain Badiou

The Communist Hypothesis
Alain Badiou
Verso - New York
2010
(1º edição francesa de 2008)
279 p.


Conferência de Alain Badiou em Out 2010 de apresentação da obra em 

http://www.youtube.com/watch?v=wSPzkzogbDY


Revisão da obra por


David Morgan

David Morgan is a freelance writer. He completed a PhD on Post-Sixties Maoism at Newcastle University in 2010, and his book Shooting the Arrow/Stroking the Arrow, will be available on Amazon later this year (david@davidword.com).

Review

Nietzsche’s adage that philosophy is disguised biography is not a neat fit with Badiou, only because there is very little of disguise in Badiou’s philosophy. The core of his philosophical project (and of his political activism) has been an attempt to understand what it means to be faithful to the great revolutionary events of the previous two centuries, particularly May ’68 in Paris and the Cultural Revolution in China, which was, in his view, both the high point of the revolutionary sequence and the site of its final failure.
At least since the demise of Louis Althusser, defense of the Cultural Revolution in any form has generally been a one-way ticket to academic obscurity, but Badiou’s Being and Event (1988) – a creative and rigorous use of set theory as discourse about being, cataclysmic change and the nature of truth – catapulted him into a leading position in continental philosophy. Logics of Worlds (Being and Event Part 2), which used algebra to examine the link between being and appearance, further consolidated that position. Badiou’s unique mixture of Platonic Idealism and materialist dialectics has appealed particularly to a growing reaction against the relativist and defeatist aspects of postmodernism.




The Communist Hypothesis is a collection of articles that have appeared elsewhere. They are sandwiched between a Preamble and an Appendix addressed to Slavoj Žižek. In the Preamble, Badiou states that the book argues, ‘via a detailed discussion of three examples (May ’68, the Cultural Revolution and the Paris Commune), that the apparent, and sometimes bloody, failures of events closely bound up with the communist hypothesis were and are stages in its history’ (7-8). However, Badiou insists that the book ‘does not deal directly with either politics … or political philosophy’ (37). Rather, it is ‘an attempt to define the generic form taken by all truth processes when they come up against obstacles that are inherent in the world in which they operate’ (38).
Badiou defines failure in terms of his theory of points as ‘a moment within a truth procedure (such as a sequence of emancipatory politics) when a binary choice (do this or that) decides the future of the entire process’ (38). Emancipatory politics can fail in a number of ways. First the struggle can be defeated, often with great violence and bloodshed as in the Paris Commune. Even here, the failure is not all negative, because the lessons learned can ‘be incorporated into the positive universality of the construction of a truth’ (38). But failure can also come with victory, when revolutionaries succumb to the seductions of state power. This can take either a rightist form or an ‘ultra-left’ form, ‘where every contradiction … is handled with brutality and death’ (18). Badiou refers to a fictional exploration of this dilemma in his play, L’Incident d’Antioche, which ‘describes a victorious and terribly destructive revolution whose leaders finally … take the unheard-of decision to renounce the power they have won’ (20).
The chapter on May ’68 is made up of three essays, one, a pamphlet written at the time, and two more recent. Badiou argues that there were in fact four different May ’68s. The first three were comprised of 1) a youth and student revolt, 2) a general strike driven largely by young workers operating, at first, outside the big union organizations, and 3) a libertarian May that brought forward issues of morality, women’s rights, gay rights and culture. The fourth May ’68 was the process of reappraisal and exploration that began then and that functioned as a diagonal cutting across the other three May ’68s.
The essence of this fourth May ’68 was a halting attempt to break away from ‘the dominant idea (shared by activists of all kinds and in that sense universally accepted inside the “revolutionary” camp) that there is such a thing as a historical agent offering a possibility of emancipation’ (52). According to this dominant idea, ‘There is an “objective” agent inscribed in social reality’, and this objective agent must be ‘transformed into a subjective power…. For that to happen, it had to be represented by a specific organization and that is precisely what we called a party, a working-class or people’s party’ (53). Badiou here puts his finger on the essential element of the Marxist concept of revolutionary agency. His rejection of this concept achieved its first full and systematic development in Being and Event.
In the pamphlet written back at the time, Badiou describes the ‘revolutionary storm’ of May ’68 as ‘a cyclone that violently swirled around the empty Point, the central void where communist organization was lacking’ (89), but in the later essays he comes to the conclusion that the concept of the Leninist Party itself was fundamentally flawed, or as he puts it following the terminology of Sylvain Lazarus, that the form has become saturated, that its creativity and usefulness in solving new problems has been exhausted. The concept of the Party was grounded in an attempt to build on the lessons of the Paris Commune – the first truly proletarian revolution – and the ‘unprecedented massacre’ that ended it. The problem was not just to seize power, but also to preserve and extend it. Lenin’s solution, according to Badiou, was to create ‘a military machine … that could replace the bourgeois State with a new kind of State exercising a popular despotism without historical precedent: the State of the dictatorship of the proletariat, which is in fact a State that merges with the insurrectional Party and which, to a large extent, militarizes the whole of society’ (274). Badiou argues that although the party/state form was historically justified, now that it has failed, it is time to return ‘to what was alive but defeated in the [Paris] Commune’ prior to the Leninist synthesis (228).
Badiou defends the Cultural Revolution as ‘the last significant political sequence that is still internal to the party-state’ (103). It represented a rejection of Stalinism and an attempt to mobilize the masses to defend the revolution in China against the capitalist bureaucracy that was growing up inside the Party itself. The Cultural Revolution unleashed a revolutionary storm whose creativity inspired revolutionary struggle around the world. But the ‘capitalist roaders’ inside the Party fought back and did not hesitate to use those elements of state power that they controlled to crush the insurgent masses – while at the same time organizing their own bands of Red Guards to oppose the revolutionary Red Guards. At this point, according to Badiou, Mao backed off from the threat of civil war. He was unwilling to accept the destruction of the Communist Party that was the logical next step after the Shanghai Commune. The revolution stalled, and when Mao died in 1976, Deng Xiaoping, who had been one of the main targets of the Cultural Revolution, was able to gain control of the Party and restore capitalism.
I’ve given a summation of Badiou’s political arguments in this book with little reference (so far) to his mathematical formalism, because it seems to me that despite his insistence, The Communist Hypothesis is mainly a political analysis of the last two centuries of revolution, and that the formalism runs in parallel to the argument rather than being either a necessary tool of analysis or a necessary conclusion. However, it is not possible to take Badiou’s mathematical formalization of ‘the truth process’ separately from his (critical) loyalty to the experience of the Cultural Revolution. The fundamental principal of Badiou’s ontology – that ‘the one is not’ – is profoundly influenced by what was summed up in the Cultural Revolution as the main struggle on the philosophical front: the struggle between the revolutionary line that ‘one divides into two’ vs the reactionary line of ‘two combines into one’.
Set theory, as a presentation of presence, is a powerful metaphor for thinking the reconciliation of materialist monism with the dialectical principle that one divides into two. It states in a formal way that there is nothing that cannot be ‘digested’ into a collection with anything else. Therefore, all things are one. But a set of all sets cannot be conceived without contradiction (Russell’s paradox). Therefore, the one is not.
However, for Badiou set theory is not used as a metaphor or an analytical tool, but as an exact analogue of the real. Deductions in set theory apply equally and necessarily to the real. Consequently, for example, Russell’s paradox does more than prove that it is not possible to think ‘the set of all sets’ without logical contradiction; for Badiou it proves that there is and can be no set of all sets that encompasses the real; it is Anselm’s ontological proof for the existence of God reversed.
When Badiou applies set theory to the question of political change, he conflates at least three different meanings of the word ‘state’. The first meaning is the state of a set, i.e. the set of all subsets, that which is included in a set, not just presented but represented. The second meaning (the traditional Marxist definition) is the state as an instrument of class rule, whereby one class dominates all the others in a class society. The third meaning refers not just to the instrument of class rule, but to class society as a whole, including the capitalist economy (243). All political and economic forms of social organization are incorporated into Badiou’s ‘state of the situation’ as simply the status quo, ‘the system of constraints that limit the possibility of possibilities’ (243).
This flattening out of different types and levels of social organization makes it impossible to account for radical change other than as an aleatory event. A new political truth that, in Marxist terms, may have been driven into existence by the contradiction between the forces of production and the relations of production can only appear to the political subject in flatland as springing up out of the void. Political agency, in this conceptualization, is reduced to organizing the consequences of an aleatory event (224). There is no concept of agency as both caused by and causing events.
Without this causative conception of agency, the dictatorship of the proletariat makes no sense, because it is based on the idea that a political subject can and must transform society through understanding and manipulating causality. In Marxist theory, the withering away of the state is a product of this type of agency. The state does not spontaneously disappear; it withers away because its basis in class society disappears. But class society doesn’t wither away; it must be systematically dismantled – hence Mao’s statement in On Contradiction that the dictatorship of the proletariat must be strengthened in order to lay the conditions for its abolition. The real ideological roots of the Cultural Revolution lie in Lenin’s critique of spontaneity in What Is To Be Done.
Given these two fundamentally different conceptions of agency, conflicting summations of the goal of the Cultural Revolution – whether to replace the Party with a mass movement as Badiou argues, or to strengthen it by a test of fire as stated by Mao – were inevitable. The great truth of the Cultural Revolution – in the Maoist account – was that the elimination of class divisions in society would be long and tortuous, and would be characterized by many ruptures requiring both mass mobilization and Party leadership. And further, the point of most intense class struggle and greatest danger of reversal would be where power was concentrated: inside the Party itself. In this account, the Party must lead the revolution against itself - a paradox, but one that Badiou himself subscribes to, if only on the level of the individual: ‘They [the Chinese] taught that in political practice, we must be both “the arrow and the bull’s eye”, because the old worldview is also present within us’ (102).
Although it may be debatable whether Badiou’s ‘Communist Hypothesis’ is a step forward into a new form of communism or a step backward into the old form of anarchism (despite his protest to the contrary), the great strength of this book, and of Badiou’s work in general, is in its commitment to defending and carrying forward the achievements and lessons of the last two centuries of revolution – and in his stubborn and controversial insistence on including the Cultural Revolution as an essential part of that heritage:

The Cultural Revolution is the Commune of the age of Communist Parties and Socialist States: a terrible failure that teaches us some essential lessons. (278)

30 January 2011

Sobre o autor


Alain Badiou (Rabat, Marrocos, 17 de janeiro de 1937) é um filósofo, dramaturgo e novelista francês. É conhecido por sua militância maoísta e sua defesa do comunismo.
O seu pai, Raymond Badiou (1905-1996), foi membro da SFIO (Section française de l'Internationale ouvrière), fazendo parte da Resistência francesa durante a ocupação nazi, e sendo eleito presidente da câmara de Toulouse entre 1944 e 1958.
Realizou estudos de filosofia na École Normale Supérieure de Paris entre 1956 e 1961. Deu lições na Universidade de Paris VIII e na ENS desde 1969 até 1999, data na que foi nomeado director do departamento de filosofia desta. Também dá cursos no Collège international de philosophie. Foi discípulo de Louis Althusser, influenciado pelos seus primeiros trabalhos epistemológicos, bem como de Jean-Paul Sartre e do psicanalista Jacques Lacan.
Foi membro fundador do PSU (Parti Socialiste Unifié) em 1960. Implicado nos movimentos políticos em torno do Maio de 68, e simpatizante com a esquerda maoísta, ingressou na Union dês communistes de France Marxiste-Léniniste em 1969. Actualmente participa no grupo ultra-esquerdista L'Organisation Politique, juntamente com Sylvain Lazarus e Natacha Michel.


Alain Badiou adota uma posição única no cenário internacional de discussão filosófica. Ao mesmo tempo em que questiona a metafísica clássica, escapa ao jargão contemporâneo que busca aniquilar a verdade enquanto categoria prática e teórica. É conhecido também por sua crítica violenta às democracia liberais e aos direitos humanos, que fariam parte do festim ideológico sustentador do capitalismo em suas configurações atuais. A sua obra principal é O ser e o evento, em que defende que as matemáticas constituem a verdadeira ontologia, ou "ciência do ser enquanto ser". Em 2006 publicou a sua segunda parte, Logiques des mondes. L'être et l'événement, 2, onde passa a tratar das lógicas do aparecimento do ser em mundos (ou "situações").

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sábado, 26 de janeiro de 2013

Ismail Kadaré - O Dossier H


O Dossier H

ISMAIL KADARÉ
EDITORA Difusão Cultural

1ª EDIÇÃO
TRADUÇÃO CarmeN de Carvalho

capa fernando diogo

1991

181 p



O DOSSIER H. narra a jornada de Max Roth e Norton Willy, dois helenistas irlandeses estudiosos de Homero que chegam a uma pequena cidade na Albânia em 1930. Seu objetivo: fazer gravações de épico albanês oral com uma máquinanova- um gravador. A Albânia é hoje um dos poucos lugares no mundo onde ainda existem rapsódias (os guzlars) herdeiros de uma longa tradição oral, e capaz de improvisar longas histórias em verso, com acompanhamento ao lahuta, assim de idade.

Ao estudar o processo de transformação da épica oral, através de comparações entre as mesmas recitações épicas por bardos diferentes, ou mesmo uma semana rapsodo vários separados, ambos os homéristas têm esperança de inferir informações sobre funcionamento do épico oral na Grécia antiga , e de lá, finalmente, resolver problemas até então insolúveis sobre a composição da Ilíada e da Odisséia (a " questão homérica "). Mas, aos olhos das autoridades, não há dúvida de que essas pesquisas são desculpas e irlandeses são os dois espiões. 

O romance é baseado em pesquisa realizada no início do XX º século na épica oral, forma e verso, que alterou profundamente os estudos homéricos. Os dois personagens principais são fortemente reminiscente de Milman Parry e Albert Lord , que, com base em pesquisa iniciada por Mathias Murko , foram os primeiros a interessar-se pelo épico servo-croata , numa perspectiva comparativa, a fim de lançar luz novamente os épicos homéricos. A figura de Homero como o arquétipo do poeta cego paira sobre todo o romance e dá origem a várias alusões (especialmente problemas para Willy) que podem tendem para o fantástico . Além disso, as referências ao escuro e sangrento épico é o contributo albanês desesperado para a atmosfera do romance. Por outro lado, a sátira e a mesquinhez regime paranóico da vida da província transforma o romance de humor fazendo lembrar as histórias de Mikhail Bulgakov e O Revisor de Gogol . 



Sobre o autor

Ismail Kadaré (Gjirokastër, 28 de Janeiro de 1936) é um escritor albanês. Filho de um funcionário público, presenciou a devastação da Albânia pelas tropas que se digladiaram durante a Segunda Guerra Mundial, experiência que deixou as suas marcas tanto na sua vida como na sua obra. 

Recebeu muitos prémios literários, e foi nomeado diversas vezes para o Prémio Nobel da Literatura, onde quase sempre aparece na lista de favoritos. 

Recebeu o Prémio Internacional Man Booker em 2005. Em 2009 foi galardoado com o Prêmio Príncipe de Astúrias das letras. 

As opiniões divergem sobre se Kadaré foi um dissidente ou um conformista durante o período comunista da Albânia. Em diversas ocasiões, Kadaré refutou a ideia de ter sido dissidente. Argumentos podem ser esgrimidos em ambos os sentidos. 
De facto, foi praticamente o único escritor albanês autorizado pelo regime, e foi mesmo deputado do regime de Enver Hoxha, mas algumas das suas obras (como O Palácio dos Sonhos) são profundamente anti-totalitárias e ressaltam o valor da liberdade.



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Ismail Kadaré - Novembre d'une capitale 1998

Novembre d'une capitale

Ismail Kadaré
Editions Fayard
Brochado
Língua Francesa
Tradutor Jusuf Vrioni
Dimensões: 20,80 x 13,41 x 1,80
208 páginas
299 gramas
1998/01/09

Novembro de uma capital conta os dias da libertação de Tirana pela resistência albanesa, ente 29 de Outubro a 17 de Novembro de 1944. 




Ismail Kadaré (Gjirokastër, 28 de Janeiro de 1936) é um escritor albanês. Filho de um funcionário público, presenciou a devastação da Albânia pelas tropas que se digladiaram durante a Segunda Guerra Mundial, experiência que deixou as suas marcas tanto na sua vida como na sua obra. 

Recebeu muitos prémios literários, e foi nomeado diversas vezes para o Prémio Nobel da Literatura, onde quase sempre aparece na lista de favoritos. 

Recebeu o Prémio Internacional Man Booker em 2005. Em 2009 foi galardoado com o Prêmio Príncipe de Astúrias das letras. 

As opiniões divergem sobre se Kadaré foi um dissidente ou um conformista durante o período comunista da Albânia. Em diversas ocasiões, Kadaré refutou a ideia de ter sido dissidente. Argumentos podem ser esgrimidos em ambos os sentidos. 
De facto, foi praticamente o único escritor albanês autorizado pelo regime, e foi mesmo deputado do regime de Enver Hoxha, mas algumas das suas obras (como O Palácio dos Sonhos) são profundamente anti-totalitárias e ressaltam o valor da liberdade.



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Ismail Kadaré - O general do exército morto.


O General do Exército morto
ISMAIL KADARÉ
EDItora sementes

1ª EDIÇÃO

TRADUção João Miranda
CAPA Zef Shoshi
1975
190 P


Sobre o livro e o autor

Tinha eu 23 anos de idade quando iniciei, em 1974 — com a mulher e a filha de oito meses —, uma temporada de cinco anos na Albânia, como radialista na transmissão em ondas curtas da Rádio Tirana para o Brasil. Por aqui corriam os tempos do general Garrastazu Médici, e quero crer que a Rádio teve seu mérito ao falar aos brasileiros de temas proibidos como a Guerrilha do Araguaia. 

Foi como tropecei no albanês. 


Quase duas gerações mais tarde, as pessoas ainda se espantam ao dar com um tradutor — quero crer que o único na ativa — do albanês para o português. De vez em quando alguém não resiste à tentação de comparar-me ao personagem do delicioso conto de Lima Barreto. Respondo, com uma ponta de vaidade, que “o homem que sabia javanês” é café pequeno em matéria de línguas recônditas: ele aprendeu o idioma falado por 75 milhões de javaneses; enquanto meu albanês tem não mais que uns 3 milhões de falantes na Albânia, outros tantos em Kossova (que os brasileiros conhecem como Kosovo, na grafia meio arrevesada que nos chegou via sérviocroata e inglês), mais um milhão espalhado pelos Bálcãs e o mundo. 

Pense nas línguas indoeuropeias como uma grande árvore. No meio dos numerosos galhos frondosos, há uma folhinha que sai diretamente do tronco, sem nenhum parente próximo. É o albanês: tão próxima do português como do persa, do russo ou do bengali. E ainda com declinações… 

Gosto de supor alguma valia em meu trabalho de tradutor por servir de ponte, ainda que precária, entre dois pedaços de humanidade que se conhecem tão pouco. 

A ponte só tem funcionado graças a Ismail Kadaré, o premiado romancista albanês que a Companhia das Letras publica no Brasil há duas décadas. 

Foi de Kadaré o primeiro romance albanês que li, em francês, ainda a caminho de Tirana: O general do exército morto. Desde ali ele me cativou. Ainda pelejo para ver O general publicado no Brasil, pela primeira vez, não só por motivos sentimentais mas porque foi quem revelou aos ocidentais o talento kadareiano. 

Kadaré costuma aparecer na “ala” literária que se poderia chamar de pós-Muro de Berlim, e teve seus 15 minutos de fama. Isso o coloca numa companhia que não merece: no século que vem duvido que alguém lembre dos outros da ala pós-Muro, se é que já não estão esquecidos, mas com certeza muita gente no mundo há de dar valor à obra tão albanesa e tão universal do autor do General. 

É com gosto, portanto, que vou fazendo minha ponte, ou pinguela. A despeito de todas as distâncias e diferenças, temos em comum, brasileiros e albaneses, o fato de habitarmos de certa forma dois “cantos do mundo” — ainda que alguém possa se chocar com a noção de que o globo terrestre tem cantos. E um mundo sem cantos só terá a ganhar com traduções do albanês para o português. Ao nos aproximar e conhecer vamos sempre nos tornando mais… humanos… 

Bernardo Joffily é jornalista e fundador do portal www.vermelho.org.br. Traduz obras do inglês, francês, espanhol, italiano e em especial a obra do romancista Ismail Kadaré, do albanês.

Livro de bolso, brochado, com algumas manchas de humidade no miolo. 

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