Villa Celeste - novela ingénua
Hélia Correia
Edição Contraponto
Ilustrações de Luis Manuel Gaspar
Logotipo da Contraponto - Paulo Guilherme d'Eça Leal
2ª edição (Março de 1999)
94p .
Livro raro (de coleção)
Edição Ulmeiro
Capa António Pimentel
Coleção imagem do corpo 26
1ª edição 1985
50p .
1ª edição 1985
Sobre a obra editada pela Contraponto (Fac-simile da carta e transcrição de Isabel castanheira - Blogue Cavacos das Caldas)
"Palmela, 5 de Abril de
1999
Dona Maria Isabel
Castanheira - tenho aqui à m/ frente o Gil Vicente. Não é o do Pranto da Maria
Parda, essa bêbada. Mas o gato da Loja 107 em foto, ao colo da Hélia
Correia.
E aí está! - vou
mandar-lhe daqui a dias, talvez ainda esta semana, um exemplar de Villa Celeste,
uma edição minha. A Hélia falou-me na sua livraria, para um lançamento caldense.
Já não sei onde fica a sua casa. Não é do meu tempo caldense, que vai de 1927 a
1968, + ou -. Morei na General Queiroz, na Bordallo Pinheiro, junto do Parque e
na Estrada do Coto (?), casa dos Badejas. Nos anos 60 havia uma livraria na rua
das Montras (o rapaz morreu, doença do coração) aí em 1966, 67. E uma livraria
na Praça, que passou para a FRAMI (o - um dos, o Rogério - Caiado até é meu
compadre).
Seja como for. Pela
confiança que a Hélia Correia demonstrou com o Gil Vicente, creio que lhe será
grato (além do mais) receber o livro e cooperar no lançamento. A Hélia disparou
para o estrangeiro, em férias pascais, eu ainda não lhe disse nada, aqui fica o
meu pedido. Mais: tenho nas Caldas umas dezenas de amigos. Um tinha. Morreram
dois: o dr. António e o irmão, o dr. Custódio Maldonado Freitas (ainda conheci o
velho Freitas, que me dava injecções de cálcio Sandoz no rabo).
A nosso editora,
Contraponto, vive de assinantes por todo o País. Apenas ponho (e poucos) livros
em meia dúzia de livrarias (Lx, Coimbra, Porto).
E estou num LAR DE
IDOSOS e sem forças para ir combater no Kosovo... Mas queria que o bonito livro
da Hélia chegasse ao maior número possível de leitores. Ela (apenas a vi, aqui,
e foi quando ela alvitrava o lançamento aí) pareceu-me tímida, acanhada, com
exagerados escrúpulos de julgarem que se está a impingir. Isto é: de se parecer
com algumas damas literatas (catatuas, lhes chamo) que se pavoneiam por todo o
lado e estão em todas (a Dona Lídia Jorge por ex.). Não será o caso, mas há um
mínimo de esforços a fazer para quebrar aquela barreira de silêncio que se
instala por inércia nossa.
Os meus
cumprimentos."
Luiz Pacheco
Sobre a mítica Editora Contraponto de Luiz Pacheco
Luiz Pacheco cria a
Contraponto: Edições e Distribuição em 1950 (Setembro), na rua Rafael
Andrade, nº12 1º, Lisboa. Motivado pela ideia de combate ao regime vigente e
pela luta contra as instituições. Concebe uma editora cujo objectivo era a
denúncia da situação política, social e literária. O trabalho de escrita,
revisão, tratamento gráfico e distribuição era, todo ele, feito pelo Luiz
Pacheco. Contava com a colaboração de alguns amigos que se propunham para
realizar certas tarefas e, por outro lado, garantir a publicação das suas obras.
Inicia a sua
actividade com a publicação do primeiro número de "Cadernos de Crítica e
Arte" sob organização e direcção de José Nunes Ferreira e Pitta Simões,
tiragem de 2000 exemplares mas vendeu-se muito mal.
Artigos publicados:
"Sobre a poesia de Carlos de Oliveira"; "Apontamento" de Augusto Abelaira; "O
Presidente" de Pacheco; entre outros.
Colaboradores: Augusto Abelaira, Jaime
Salazar Sampaio, Arlinda Franco Oliveira, Vasco Vidal, Eugénio Morais
Cardigos.
Em 1952 saiu
o segundo número de "Cadernos de Crítica e Arte" , com uma tiragem de
1000 exemplares. Desta vez, as vendas superaram as expectativas.
Artigos
publicados: Tentativa de publicar uma peça de Garcia Lorca mas foi cortada pela
Censura. É alterada por poemas de Pedro Oom e Carlos Drummond de
Andrade.
Colaboradores: Luiz Pacheco, Tomás Ribas, Paulo-Guilherme de Eça
Leal, Alfredo Margarido, Renato Ribeiro, Manuel Nunes da Fonseca, António Nuno
Barreiros, Francisco Aranda, Florentino Goulart Nogueira, Egito
Gonçalves.
Em 1962
publica o terceiro, e último, número de "Cadernos de Crítica e Arte". Por
questões económicas este número só contém as páginas 1, 2, 7 e 8. A tiragem foi
de 1000 exemplares mas 500 ficaram na tipografia da Sertã.
Colaboradores:
Luiz Pacheco, Artur Ramos, Ernesto Sampaio, António José Forte.
O primeiro livro
publicado pela Contraponto foi em 1951, intitulado "Discurso sobre
a reabilitação do real quotidiano" de Mário Cesariny de
Vasconcelos.
Artigos
presentes no arquivo da Censura:
A 11 de Setembro de 1953 recebe uma notificação do Grémio Nacional de Editores e Livreiros com a seguinte mensagem: "Acresce o facto de estar editando obras sem autorização dos autores, conforme reclamação apresentada por alguns deles que se dirigiram a este Grémio na suposição de que dispuséssemos dos meios repressivos para por cobro a essa usurpação" . Também com a mesma data recebeu outro aviso relativo à falta de registo nos serviços do Grémio Nacional como editorial .
Em jeito de
elucidação, António Maria Pereira (Presidente da Direcção do Grémio Nacional dos
Editores e Livreiros) esclarece os vários avisos por parte da Direcção do Grémio
Nacional, num seu cartão de visita, redigindo umas singelas palavras. Passo a
citar: "Com cordiais cumprimentos cumprindo a sua missão de Director do
Grémio, perante este caso, esclarece a título confidencial, que tanto autores
como editor pertencem aos chamados "surrealistas" grupo de jovens poetas
incompreendidos por quem aprecia João de Deus e Augusto Gil, mas pessoas
inofensivas" . 11/09/55 (?)
No dia 7 de Outubro de 1953 enviou um
requerimento solicitando desenvolver uma editora designada "Contraponto",
destinando-se "à publicação de dois pequenos folhetos anuais de poesia e
literatura, sem fins comerciais e unicamente literários". Este pedido foi
aprovado nos finais de 1953 .
No entanto, a 7 de Dezembro de 1957 - Luiz
Pacheco informa os Serviços da Censura que suspendeu a actividade como editor
.
Colecção Teatro no Bolso:
Em 1956 divulga os primeiros
números da Colecção Teatro no Bolso, em pequeno formato, que acompanhavam o
mundo teatral em Lisboa. Cada volume era vendido a 10 escudos nas livrarias e 5
escudos à porta dos teatros. Em promoção especial, séries de três números pela
módica quantia de 15 escudos. Os volumes avulsos custavam 6 escudos. Juntamente
com Cacilda Becker, em 1959, percorre o país vendendo estas pequenas publicações
com autores consagrados, como por exemplo: Henrik Ibsen; Molière; Alfonso
Castelao; Luigi Pirandello; Marquês de Sade; Almeida Garrett; Camilo Castelo
Branco; Guillaume Appolinaire; entre outros. Em paralelo, a Companhia do "Teatro
de Sempre" também publicava peças de ilustres autores, que facultaram algumas
traduções a Luiz Pacheco (funcionário da Inspecção dos espectáculos). Esta
Companhia pertencia ao Teatro Avenida de Lisboa, sob a direcção artística de
Gino Saviotti e colaboração de Laura Alves e Giuseppe Bastos.
Delfim da
Costa:
Nos anos 60, algumas obras foram publicadas com o pseudónimo
Delfim da Costa (o cangalheiro da cidade). A origem deste pseudónimo colectivo é
contada no verso de um panfleto intitulado "Caca, cuspo e ramela", que
passo a citar: "Juntaram-se Manuel de Lima, Luiz Pacheco e Natália Correia,
em casa desta, e fizeram um papel com pretensões a anónimo, assinado Delfim da
Costa (o cangalheiro da cidade) e titulado Requiem pelos corpos penados mais em
destaque no cemitério ulissiponense. Outros artigos que compõem esta colecção:
30 coplas de pé quebrado compostas, musicadas, cantadas por Delfim da Costa, o
cangalheiro da cidade; Ária de Delfim da Costa: pro domo sua."
Logotipo: O criador do logotipo da Contraponto foi o Paulo Guilherme d'Eça Leal. Este está presente na maioria das publicações produzidas pela editora. No caso dos folhetos, panfletos e em stencyl o nome da editora por vezes não surgia no pé da capa ou página ou surgia, em letras normais. |
Assinantes:
Sobre a Ulmeiro:
Livrarte/Ulmeiro"... 40 anos a resistir
( de http://mercadodebemfica.blogspot.pt/2009/01/livrarte-40-anos-resistir.html
Em Benfica, existe ainda um Alfarrabista - repleto de História e de memórias de lutas por uma Causa - que teima em Resistir, depois de 40 anos...
Situada na Avenida do Uruguai, no Nº 13A A, a “Livrarte” iniciou, formalmente, o seu negócio na venda de livros, há cerca de 29 anos (por volta de 1969): “(...) iniciado pela “Ulmeiro”, que tinha Editora e a Livraria (...)”, como nos contou a D. Lúcia Ribeiro, proprietária desta casa.
A “Editora Ulmeiro” (como se chamava, então, à loja que alguns anos mais tarde viria a dar origem à“Livrarte”) poderia ser considerada, em finais dos anos 60, como uma Editora de vanguarda, na medida em que as suas publicações eram, essencialmente, livros de carácter político e interventivo, de ideais opostos aos do regime então vigente.
Nessa época conturbada do Salazarismo, e antes do 25 de Abril de 1974, esta era uma livraria “(...) marcadamente de contestação (...)”, segundo palavras da D. Lúcia.
Enquanto que a “Editora Ulmeiro” publicava livros de carácter considerado revolucionário para o Regime, a sua Livraria assumia um papel de núcleo de concentração dos intelectuais que queriam fazer ouvir as suas vozes contra o governo.
“Há ali um período em que era só política, pronto. Aí foi o auge da política. A gente queria era saber alguma coisa de política (...)”, e na “Ulmeiro” começaram a realizar-se sessões culturais de cariz político-informativo.
Nesta fase em que todos estavam de algum modo ligados à política (quer quisessem ou não, pois as suas vidas eram sempre regidas pela mesma), as sessões culturais de música e teatro, em que nomes sonantes como o de Carlos Paredes, Zeca Afonso e Mário Viegas participaram, sucediam-se umas atrás das outras: “Olhe, não tem conta as sessões que nós fizemos aqui culturais!”, diz-nos a D. Lúcia Ribeiro com uma certa réstia de saudade na voz.
Apesar desta sua acção, nunca foi partidária, nem esteve ligada a nenhum movimento político ou de contestação, mas as pessoas sempre associaram a Livraria aos movimentos contra o Regime que antecederam o 25 de Abril; como nos refere a D. Lúcia, “(...) não esteve ligada a nada, embora as pessoas nos conotassem, mas isso era inevitável!”, porque “Numa fase em que (...) toda a gente estava ligada à política (...) os que eram de direita diziam que éramos de esquerda, os que eram de esquerda como não éramos do PC ou não sei quê, diziam que éramos de direita.”
O próprio Zeca Afonso era amigo pessoal da D. Lúcia e do Sr. José Ribeiro (marido da D. Lúcia), facto que devido à importância que o seu nome teve na história do 25 de Abril fez com que a memória colectiva existente na zona de Benfica assimilasse, até aos nossos dias, a “Livrarte” como pertença de familiares do cantor. No entanto, o parentesco existente entre Zeca Afonso e o Sr. José Ribeiro era, como nos explicou a D. Lúcia e tivemos ocasião de constatar quando o seu marido entrou na loja (aquando de uma das nossas Entrevistas), “(...) só a semelhança física (...)” e “(...) uma grande relação de amizade e de parecença intelectual, a postura na vida (...)” entre ambos “(...) era muito parecida”.
Depois do 25 de Abril de 1974, quando os ânimos políticos e contestatários acalmaram, estas sessões culturais deixaram de ter razão de existir e “(...) aboliu-se isso completamente”. Mas a principal questão continuava a ser “(...) intervir culturalmente (...)” na sociedade, o que só foi possível com muitas outras sessões ao nível de autógrafos de autores e de leituras de poesia. Retomando-se, assim, o prosseguimento normal de uma Editora/Livraria.
Quatro anos após o 25 de Abril, em 1978, “(...) fizeram-se duas firmas diferentes... a “Ulmeiro” remeteu-se para o seu campo de Editora, que é aqui (...) no prédio ao lado; e a Livraria constituiu-se portanto, com o nome de “Livrarte” (...) Embora ficando ligados do ponto de vista de auxílio, digamos”. A D. Lúcia Ribeiro ficou à frente da “Livrarte”, enquanto o seu marido, o Sr. José Ribeiro permaneceu mais ligado à “Ulmeiro”e ao ramo editorial.
A “Editora Ulmeiro” (como se chamava, então, à loja que alguns anos mais tarde viria a dar origem à“Livrarte”) poderia ser considerada, em finais dos anos 60, como uma Editora de vanguarda, na medida em que as suas publicações eram, essencialmente, livros de carácter político e interventivo, de ideais opostos aos do regime então vigente.
Nessa época conturbada do Salazarismo, e antes do 25 de Abril de 1974, esta era uma livraria “(...) marcadamente de contestação (...)”, segundo palavras da D. Lúcia.
Enquanto que a “Editora Ulmeiro” publicava livros de carácter considerado revolucionário para o Regime, a sua Livraria assumia um papel de núcleo de concentração dos intelectuais que queriam fazer ouvir as suas vozes contra o governo.
“Há ali um período em que era só política, pronto. Aí foi o auge da política. A gente queria era saber alguma coisa de política (...)”, e na “Ulmeiro” começaram a realizar-se sessões culturais de cariz político-informativo.
Nesta fase em que todos estavam de algum modo ligados à política (quer quisessem ou não, pois as suas vidas eram sempre regidas pela mesma), as sessões culturais de música e teatro, em que nomes sonantes como o de Carlos Paredes, Zeca Afonso e Mário Viegas participaram, sucediam-se umas atrás das outras: “Olhe, não tem conta as sessões que nós fizemos aqui culturais!”, diz-nos a D. Lúcia Ribeiro com uma certa réstia de saudade na voz.
Apesar desta sua acção, nunca foi partidária, nem esteve ligada a nenhum movimento político ou de contestação, mas as pessoas sempre associaram a Livraria aos movimentos contra o Regime que antecederam o 25 de Abril; como nos refere a D. Lúcia, “(...) não esteve ligada a nada, embora as pessoas nos conotassem, mas isso era inevitável!”, porque “Numa fase em que (...) toda a gente estava ligada à política (...) os que eram de direita diziam que éramos de esquerda, os que eram de esquerda como não éramos do PC ou não sei quê, diziam que éramos de direita.”
O próprio Zeca Afonso era amigo pessoal da D. Lúcia e do Sr. José Ribeiro (marido da D. Lúcia), facto que devido à importância que o seu nome teve na história do 25 de Abril fez com que a memória colectiva existente na zona de Benfica assimilasse, até aos nossos dias, a “Livrarte” como pertença de familiares do cantor. No entanto, o parentesco existente entre Zeca Afonso e o Sr. José Ribeiro era, como nos explicou a D. Lúcia e tivemos ocasião de constatar quando o seu marido entrou na loja (aquando de uma das nossas Entrevistas), “(...) só a semelhança física (...)” e “(...) uma grande relação de amizade e de parecença intelectual, a postura na vida (...)” entre ambos “(...) era muito parecida”.
Depois do 25 de Abril de 1974, quando os ânimos políticos e contestatários acalmaram, estas sessões culturais deixaram de ter razão de existir e “(...) aboliu-se isso completamente”. Mas a principal questão continuava a ser “(...) intervir culturalmente (...)” na sociedade, o que só foi possível com muitas outras sessões ao nível de autógrafos de autores e de leituras de poesia. Retomando-se, assim, o prosseguimento normal de uma Editora/Livraria.
Quatro anos após o 25 de Abril, em 1978, “(...) fizeram-se duas firmas diferentes... a “Ulmeiro” remeteu-se para o seu campo de Editora, que é aqui (...) no prédio ao lado; e a Livraria constituiu-se portanto, com o nome de “Livrarte” (...) Embora ficando ligados do ponto de vista de auxílio, digamos”. A D. Lúcia Ribeiro ficou à frente da “Livrarte”, enquanto o seu marido, o Sr. José Ribeiro permaneceu mais ligado à “Ulmeiro”e ao ramo editorial.
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