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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

When the Wolves Howl a novel by Aquilino Ribeiro 1963

When the Wolves Howl
(Quando os Lobos uivam)
 a novel by 
Aquilino Ribeiro
1963
The Macmillan Company
New York
1st American Edition
tradução Patrícia Mcgowan Pinheiro
288p

e
(Quando os Lobos uivam)

São Paulo (Brasil), 1959


Editôra Anhambi S.A.


1.ª edição (no Brasil)


[21 cm x 14,4 cm] 


264 págs.



Com a edição original portuguesa apreendida e o escritor acusado, a prisão e o julgamento em Tribunal Plenário de Aquilino Ribeiro suscita no Portugal ditatorial uma onda de protestos, alguns dos quais dirigidos ao próprio Salazar (http://digitarq.dgarq.gov.pt/details?id=3894644 )

A primeira edição de "Quando os Lobos uivam" em língua estrangeira e 2ª fora do país, a partir da edição original portuguesa apreendida pela PIDE e amplamente divulgada fora de Portugal, é esta excelente 1ª edição americana da The Macmillan Company. 




A primeira edição fora do país tinha sido a edição brasileira em língua portuguesa impressa em São Paulo em 1959 pela Editôra Anhambi, S. A. Com 262-II págs. – Broch. 21x14,5 cm 1.ª Edição tem prefácio de Adolfo Casais Monteiro e capa de Fernando Lemos.





Quando os Lobos Uivam
Aquilino Ribeiro

http://nlivros.blogspot.pt/2010/08/quando-os-lobos-uivam-aquilino-ribeiro.html

Publicado em 1958, “Quando os Lobos Uivam” é talvez o romance mais conhecido de Aquilino Ribeiro e um dos últimos que escreveu. Já anteriormente “marcado” pelo regime salazarista, esta obra valeu-lhe um mandato de captura e a apreensão de todos os exemplares editados.

E o que faz deste romance algo “digno” de censura e o seu autor “persona non grata” para o regime?

Serra dos Milhafres, finais dos anos 40, o Estado Novo resolve impor aos beirões uma nove lei: Os terrenos baldios que sempre tinham sido utilizados para bem comunitário e onde essa comunidade retirava parte vital do seu sustento, seriam agora “expropriados” e esses terrenos utilizados para plantar pinheiros. Assim, sem mais nem menos, o Estado chega e diz que, a partir daquele momento, acabou.

Implanta-se um clima de medo nas gentes e é esse clima que Manuel Louvadeus, que havia emigrado para o Brasil anos antes, vem encontrar quando regressa à aldeia.

Homem vivido e culto devido, segundo o próprio, aos muitos livros que por lá havia lido, Manuel tem uma visão para os dois lados e um sentido de justiça que rapidamente o fazem cair nas boas graças das gentes do povo.

Toma então parte da sua gente, homens honestos e humildes que trabalham de Sol a Sol mas que não deixam de viver em condições miseráveis.

A revolta acaba por suceder e entre mortos e feridos tudo acaba numa caçada aos homens por parte da polícia que leva muitos homens à prisão acusados de serem instigadores e cérebros da revolta. O Estado mostra então todo o seu esplendoroso poder.

Obviamente que mais de 50 anos após a sua publicação muitos não entendem o porquê da censura, no entanto não é necessário grandes pesquisas para entender, até porque Aquilino Ribeiro é directo, não se refugia em metáforas ou alegorias.

Aqui representado está a saga dos beirões na defesa dos terrenos baldios perante a ditadura do Estado Novo.

Representado também, ou se quiserem, brilhantemente retractado, a miséria em que vivia o povo beirão que é apenas a mostra da maioria da população portuguesa da altura, assim como a sua ignorância que, sobretudo, grassava no interior de Portugal.

É normal que o romance tivesse enfurecido o regime. Aquilino Ribeiro é demolidor na forma como denuncia a natureza, prepotência e arrogância do Estado, mas vai mais longe, descreve o funcionamento dos Tribunais Plenários fascistas e a ligação do sistema judicial às classes dominantes do país. Estes tribunais que funcionaram de 1945 a 24 Abril 1974, foram um dos mais tenebrosos mecanismos repressivos. Aquilino denuncia a podridão desse mecanismo e da cumplicidade entre magistrados e polícia política.

Algo que me fascinou em Aquilino Ribeiro foi a sua escrita. Poética a forma como constrói a narrativa, utilizando expressões beirãs (confesso que muitas dessas expressões me eram totalmente desconhecidas) que nos situam temporalmente em simultâneo com uma descrição sublime das gentes, transmitindo-nos a sua humildade e a sua natureza que, no fundo, é a natureza, a raiz do povo português.
Enlevante nas palavras, na graça e ironia que coloca, na arte do saber escrever.
Um livro belíssimo, uma pérola da literatura portuguesa, um verdadeiro mestre da arte da escrita.
Compreendo agora porque José Saramago afirmou, quando ganhou o Prémio Nobel da Literatura, que se Aquilino Ribeiro estivesse vivo seria ele a receber o Nobel.



O julgamento de Alonso Ribelas (Aquilino Ribeiro, Quando os lobos uivam)



LEVANTE-SE o segundo réu! — proferiu na sua voz pastosa e forte, revigorizada pelo descanso da noite, ao abrir às dez da manhã a audiência, o desembargador Octávio Rouvinho. — Alonso Ribelas, não é? Antigo regedor da freguesia. Proprietário, natural de Favais Queimados, casado? Sabe de que é acusado?— Ao certo não sei, não senhor — respondeu Alonso Ribelas, um homem na força da vida, entroncado, guedelhudo, com grandes e nervosas mãos, as manápulas do agricultor pobre que tem levado a vida a virar a leiva, a fazer da pedra terra, olhos mansos de boi, dentuça sólida. Bem vestido para o tronco de nozelhas que era, uma gravata rubra, com pintinhas pretas, parecia uma facada aberta na pescoceira de bronze. Na estrutura e nos modos, tipo de Sancho Pança.— É acusado de ser um dos cabeças de motim no Perímetro Florestal da Serra dos Milhafres. O réu foi um dos que deram fogo...?— Nunca soube pegar duma arma.— Não fez o serviço militar?— Não senhor.— Com esse corpanzil?— Livrei-me.— Remiu-se, quer dizer.— Não, senhor, livrei-me na Junta. Bem haja quem pôs a mão por mim, que foi o pai do senhor Dr. Labão aqui presente.Ao corregedor, Dr. José Ramos, pareceu aquele solto falar irreverência ou aleivosia contra o Estado, cominado de venialidade num dos seus órgãos, e acudiu em tom de desfastio:— Passou-se isso no tempo da outra senhora...?— Saiba V. Ex.a que fui casado uma só vez.Estalaram risos na assistência. O próprio senhor Presidente desanuviou o parecer carrancudo. Ao digno assessor porém o desconchavo soou falso, afigurando-se-lhe o homem zorato ou desbocado.— O réu está-nos a sair um grande maloio...— Saloio, não senhor. Sou serrano. Decorreu um pequeno silêncio durante o qual o corregedor se compenetrou, olhando em face, da atitude hílare do tribunal. E tentou um retruque prudente, cortando todo o campo ao contra-ataque:— Afinal se o isentaram na Inspecção é porque algum achaque lhe descobriram. Nos miolos ou nos ouvidos. O réu ouve mal. Mas adiante: perguntava-lhe o meretíssimo Presidente se não foi dos que deram fogo...?— Nem com fuzil e pederneira, que não sou fumador.— Mas empunhava uma gancha... uma faca de matar os porcos... um estadulho... Viram-no equipado, bota de carda no pé...— Por essa altura andava descalço, senhor juiz, que trazia um calo assanhado no calcanhar que não me consentiria calçar a botina.— Não é o que rezam os autos. — Lendo: Marchava à frente do bando, soltando grandes urros e gritos de viva e de morra...— É falso. Eu nem aos lobos posso berrar que se me abre o peito. Há tempos andava numa propriedade que tenho a um lugar chamado a Cheleira do Negro, veio uma alcateia e levou-me uma borrega mesmo diante dos olhos. Pois com a folha cheia de gente ninguém me ouviu berrar à coa! tão sumida era a minha voz.— Não é a impressão que dá, ouvindo-o falar.— Em conversa, dizes tu, digo eu, posso passar um dia inteiro que não me canso.— Mas que grande ratão! — proferiu o corregedor José Ramos Coelho voltando-se para o Presidente, como quem diz: tome conta dele e meta-lhe bandarilhas de fogo.De facto o presidente, empertigando-se no cadeiral, fez um cite com a cabeça e lançou:— Que política é a sua?— Saiba Vossa Senhoria que eu de polítigas não percebo patavina. Não leio gazetas.— Já foi regedor.— Já fui a pedido do pai do Sr. Dr. Labão que me livrou da mochila.— Nunca votou?— Ah, lá isso votei, mas agora cortaram-me o nome para não votar contra o Governo. Nós todos na serra estamos à uma contra o Governo.— Mas sabe quem governa?— Quem governa? Sei lá quem governa? Quem governa o mundo, sempre ouvi dizer que é o Raimundo; deve ser algum filho de má mãe, que as coisas vão de mal a pior.— O réu está a ser acintoso. É parvo ou faz-se?— Nasci com os meus sentidos todos. Lá em dizer que quem governa o mundo deve ser algum filho de má mãe, não volto atrás; que hei-de eu dizer, cada vez mais pobre, mais carregado de tributos, mais frígido do arrocho, a soga cada vez mais tesa?— Não sabe o que diz e é o que lhe vale. À barra da direcção estão grandes homens. Se tivesse uma centelha do senso que neles abunda, não se achava no banco dos réus. Nunca os ouviu falar?— Nunca ouvi eu outra coisa. Quer que lhe diga, são ladrações num outeiro. Eu quanto mais trabalho e mais poupo, mais miserável me vejo.— Vamos ao que importa: confessa haver tomado parte no barulho da serra dos Milhafres?—Confesso, quê? Eu não posso confessar ter feito aquilo que não fiz. Nunca eu veja a luz da salvação se minto.— Mas foi na turba-multa?— Fui até certa altura.— Pois não devia ter ido. Um só passo que deu tornou-o cúmplice.— Sempre queria ver quem nos roubava...— Ou quem poderia contribuir para melhorar a sua sorte... Ora diga-me cá: Entraram muitas pessoas no rebuliço?— Quantos nasceram na malfadada serra dos Milhafres e ouvem pelas noites de inverno uivar o lobo.— Assistiu à sedição?— A quê?— À zaragata?— Não senhor, a certa altura meu compadre Chico Barrelas disse-me: Voltamos para trás, Alonso. Esta gente corre à perdição. Fomo-nos meter na loja do tio Lêndeas a petiscar e a jogar as cartas.— Foi um dos que andaram a pregar a guerra ao Governo?— Não, senhor, ninguém pregou a guerra ao Governo. Nós todos somos gente de paz. Tomáramos nós que nos deixassem. O que se dizia de povo para povo é que íamos ficar desgraçados, sem coiro e camisa.O desembargador Rouvinho Estronca Briteiros abriu os braços, sinal de que instar aquele brutamontes, por jeito ou ronha arvorado em rei da madureza, era o mesmo que malhar em ferro frio. E logo o representante do Ministério Público pediu vénia para duas perguntas.— O réu sabe ler e escrever?— Gatafunho o meu nome e, lá de ler, arranho... arranho.— Que livros lê?— O Mestre da Vida, o Seringador...— Ê por conseguinte um homem mais responsável do que inculca a sua rudeza. Peço aos dignos juizes de tomarem na devida conta a minha observação. Quem disparou contra o engenheiro Lisuarte Streit da Fonseca?... Não sabe quem foi?O réu abanou a cabeça.— Não seria o réu? Ribelas deu um salto:— Eu estava na loja do tio Lêndeas quando se deu o barulho.— Não é o que se afirma nos autos. Mas pode apurar-se... Senhor Presidente, não haveria maneira de convocar para uma das próximas audiências este tal Lêndeas? Lêndeas quê?— Lêndeas é a alcunha. O nome é Julião Barnabé, de Urrô do Anjo — esclareceu muito solícito o Dr. Labão, advogado dos dois réus dali naturais, pronunciados no processo.— De sorte poderá ser convocado — obtemperou o Presidente, Dr. Octávio Rouvinho Estronca Briteiros. — Pertence à comarca de Bouça de Rei. Mas o seu depoimento afigura-se-me suficientemente preciso. Não declara que ignora ter conhecimento de que o réu estivesse na sua loja aquele dia?— Ouviram-lhe dizer: um já pateou... — tornou o representante do Ministério Público, voltando-se para o réu.— Se me ouviram dizer: um já pateou, era negócio de chincalhão. Eu estava com uma sorte maluca. Um atrás de outro, abarbatei a meu compadre três quartilhos e um bolo. Como podia eu referir-me ao senhor engenheiro, se em Urrô só pela tardinha se veio a saber o que se passou na serra? Daí lavo as minhas mãos.— Bem vejo que não procura outra coisa, lavar as mãos como Pilatos. Mas não há água que lhas lave...— Não há dúvida, senhor, têm volteado muito estrume.— ... Sujas de sangue, digo eu. As testemunhas são formais. Senhor Presidente, insto pela presença do tal Julião Barnabé Lêndeas, se é possível, e por agora ponho ponto no interrogatório deste homem...(...)






Livro marcante de uma época e de uma personalidade histórica.
Raros e de coleção
Em estado como novo para a idade. 
1ª Edição americana com capa cartonada e miolo impecáveis
Sobrecapa em muito mau estado

1ªEdição brasileira ( 2ª do livro) com miolo e capa usados mas em razoável estado

Preço da Edição americana 65€ 


Preço da edição Brasileira 65€

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