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quinta-feira, 30 de maio de 2013

Fernando Pessoa: Poeta da hora Absurda, Mário Sacramento, Editora Contraponto, 1959

Fernando Pessoa
Poeta da hora Absurda
Mário Sacramento
Editora Contraponto
1959
184 p.



Sobre o o poema
créditos http://www.lithis.pt/40


O texto centra-se na pessoa do poeta, que se mostra angustiado, torturado, desiludido. Dentro dele "chove ouro baço" (v.13) ou seja, ele sabe que todos os seus sonhos e anseios são irrealizáveis. Ele é a Hora logo é o centro de tudo, tudo se encontra voltado para ele próprio, é ele o importante do momento, directamente visado pela Hora Absurda.
O ente a quem se dirige não é nomeado. Ele designa o absoluto ansiado, o transcendente, o que existe para além do material. Para o poeta ele é um cadáver "Minha ideia de ti é um cadáver que o mar traz à praia… és a tela irreal" (vv.7-8), alguém morto, é sonhado pelo poeta, irreal, que não pode trazer qualquer solução aos problemas do sujeito lírico. Apesar de tudo o poeta sente-se ligado ao tu e serve-se de um conjunto de metáforas para expressar essa ligação (vv.1-4).



Na realidade, o coração do poeta é desilusão, ansiedade e amargura profunda "é uma ânfora que cai e que se parte…" (v.5). Mas ele aspiraria a que esse indizível, o absoluto, representado pelo tu, fosse realidade e expressa esse desejo logo no v. 1 quando enuncia uma "nau com todas as velas pandas…". Como é nas naus que se encontram as flâmulas, é no silêncio que se encontra o sorriso e o silêncio do tu é: "uma nau com todas as velas pandas…" (v.1), "a ideia de naufragar/E a ideia de a tua voz soar a lira dum Apolo fingido" (vv.43-44), "um perfil de píncaro ao sol" (v.57), "uma cegueira minha" (v.66) e "um leque… a Hora não peque" (vv.70-72).
A Hora é Absurda porque tem uma dupla dimensão de ouro/baço, assombros/escombros, potencialidades mas frustrações. Ele nunca desenvolverá suficientemente as potencialidades que possui. A sua angústia é profunda, não consegue aliviá-la "Na minha atenção há uma viúva pobre que nunca chora…" (v.15). "A Hora sabe a ter sido…" (v.18) porque o seu espaço interior é sempre passado, sem nunca ter sido presente.
O poeta deseja que houvesse caminhos, saídas de felicidade para quantos procuram "Não haver qualquer coisa como leitos para as naus!…" (v.19). Ele procura a cada momento operar uma transmutação alquímica na sua vida "Todas as minhas horas são feitas de jaspe negro" (v.21), tal como o jaspe negro teria por atribuição transformar metais imperfeitos em preciosos.
O paradoxo "Não há alegria nem dor esta dor com que me alegro/E a minha bondade inversa não é boa nem má…" (vv.23-24), manifesta a angústia em face da impotência que o aflige.
Os versos 25 a 28 "Os feixes dos lictores… com viços daninhos…" demonstram que tudo acabou antes do tempo e por isso a "hora é velha!…" (v.29) com tudo o que ser velho implica: desilusão, angústia, amargura, decepção. Ficaram apenas vestígios que põem o poeta a sonhar com o paraíso perdido "todas as naus partiram (v.29) e "um cabo morto e uns restos de vela" (v.30).
O poeta encontra-se mergulhado no mais profundo abatimento e não se cansa de o referir "O palácio está em ruínas… no parque o abandono/Da fonte sem repuxo… aquele lugar-Outono…" (vv.33-35). Delira, a própria sintaxe acompanha esse delírio (v.38) e logo relaciona a luz perdida com a própria alma: "E a minha alma é aquela luz que não mais haverá nos candelabros…" (v.39). As raízes do seu mal são muito profundas como revela a simbologia: as ninfas belas "já tinham partido" (v.41-42); as caudas dos pavões desapareceram nos "jardins de outrora" (v.45); as sombras "estão mais tristes…" (v.46); as aias deixaram "rastos de vestes" (v.47) e assim por diante até ao verso 58.
Ele, o poeta, tem todos os horizontes cercados, é a criança que "ficou fechada na aula" (v.63), com o colégio a arder. A sua mágoa fá-lo delirar (v.65) , foram inúteis todas as preces e murcharam as flores do jardim. Essa mágoa é expressa através da hipérbole "Murcharam mais flores do que as que havia no jardim…" (v.74). Ele sabe-se investido de grandes potencialidades mas tem consciência da inutilidade de quaisquer esforços que faça.
A sua angústia ameniza-se um pouco quando parece haver uma esperança de solução à vista "Alguém vai entrar pela porta… Sente-se o ar a sorrir…" (v.77) mas logo surge a imagem de "Tecedeiras viúvas" que "gozam as mortalhas de virgens que tecem" (v.78) e com elas o poeta reocupa o lugar de desiludido.
A indiferença, o alheamento do tu "o teu tédio" (v.79), dá aos olhos do poeta a imagem de coisa agradável "uma estátua de uma mulher" (v.79), "O perfume que os crisântemos" (v.80), mas irreal "a mulher que há-de vir" (v.79) e "O perfume que os crisântemos teriam, se o tivessem…" (v.80) e conclui ser preciso pôr de lado todo o esforço de comunicação com o tu (vv.81-83).
Assim, a Hora Absurda parece estar a dissipar-se, embora o absurdo que a caracteriza não tenha desaparecido. O que acontece é que o poeta parece assumir a angústia que o aflige. A metáfora "grande sorriso imperfeito…" (v.90) tem o sabor a algo amargo, a que falta qualquer coisa, sugerindo uma posição estóica perante a vida. Desiste de lutar contra a angústia mas apesar de tudo, anseia pelo tu "A minha consciência de ter consciência de ti é uma prece" (v.91) embora o saiba ilusão, inacessível. O seu desejo é de que fossem ambos um só e que a luta a travar já pertencesse ao passado. É um angustiado, fadado para a desgraça, para o adiamento contínuo da felicidade. Diz-se amado por representação, não em pessoa real (em efígie), num país que não existe "para além dos sonhos" (v.100). Isso faz com que até na face calma do tu ele só veja negatividade



Em bom estado, sem grandes manchas de acidez na capa e miolo. Capa sem defeitos na lombada. Miolo impecável

Edição de 1959 da mítica Contraponto de Luiz Pacheco

Preço 85€  

com portes registados incluídos para Portugal Continental e ilhas

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