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quinta-feira, 4 de julho de 2013

Uma estátua para herodes. Natália Correia. 1974. 1ª edição

Uma estátua para herodes
Natália Correia
1974
1ª edição
exemplar 565
Arcádia
Coleção Arcano 13
Capa de Manuel Dias
141 p




Sobre Natália Correia por Eduardo Pitta em 13/9/2010


Se fosse viva, Natália Correia faria hoje 87 anos. Por essa razão, um grupo de amigos e admiradores celebra a data no Botequim, o bar-restaurante do Largo da Graça (Lisboa) que abriu em 1971 a meias com Isabel Meyrelles. Nos anos 1970-80, o Botequim foi ponto de passagem obrigatório de grande parte da intelligentzia nacional. Foi também lá que, no Verão de 1975, os principais estrategas do Grupo dos Nove prepararam o que viria a ser o 25 de Novembro. Melo Antunes, Vera Lagoa, Francisco Sá-Carneiro, Snu Abecasis, Helena Roseta (mais tarde co-proprietária), Ramalho Eanes, Mário Cesariny, José-Augusto França, Vergílio Ferreira, David Mourão-Ferreira, Fernanda de Castro, Ary dos Santos e Fernando Dacosta eram habitués. O Botequim sobreviveu até 1995, dois anos depois da morte de Natália. Uma vez fechado, o espaço foi ocupado pela Associação José Afonso e, entre 2005-07, pela livraria Pequeno Herói, nome de um livro infantil de Natália. Agora voltou a ser o Botequim.

Por razões que a sociologia da literatura explicará, Natália foi uma mal-amada da democracia. Combatente anti-fascista com actividade consequente no MUD e na CEUD, a esquerda literária virou-lhe as costas. (Em 1979 foi eleita deputada independente nas listas do PSD.) Autora de uma obra vastíssima, no domínio da poesia, ficção, teatro, ensaio, narrativa de viagens e crónica; organizadora de antologias de poesia trovadoresca, medieval, barroca, erótica, surrealista e outras; directora do Século e da Vida Mundial, editora da Arcádia — qualidade em que se deslocou aos matos da Guiné para receber das mãos de Spínola o original de Portugal e o Futuro, publicado dois meses antes do 25 de Abril —; apoiante da Frente de Libertação Açoriana e autora do Hino dos Açores; hostess do mais exclusivo salão literário de Lisboa, por onde passou toda a gente que contava, incluindo, para espanto dos indígenas, Ionesco, Michaux, Yourcenar, Claude Roy e Henry Miller (Agustina e Sophia nunca lhe perdoaram esses serões); condenada em Tribunal Plenário por ter organizado a Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica (1966), Natália foi, de facto, a derradeira personagem da vida cultural portuguesa. Jorge de Sena define como ninguém o seu perfil: alguém que se impôs na vida literária portuguesa «pela forma como soube transformar o escândalo numa espécie de terror sagrado do provincianismo embevecido.»

Conheci Natália tarde (em 1977), mas guardo lembrança de algumas passagens pelo Botequim e, sobretudo, de um serão prodigioso em casa de amigas comuns. Natália era uma força da natureza. Protagonizou acesas polémicas no Parlamento, recebeu prémios e comendas, escreveu obras admiráveis — entre outras, o romance Madona (1968), os livros de poesia As Maçãs de Orestes (1970), A Mosca Iluminada (1972), Sonetos Românticos (1990), e o ensaio Uma Estátua para Herodes (1974) —, e casou quatro vezes, a última das quais com Dórdio Guimarães. Diz quem sabe que foi, nos anos 1940-50, a mulher mais bela de Lisboa. Hoje é um bom dia para ir ao Largo da Graça lembrar tudo isto.


Exemplar com miolo em estado excelente. Capa cartonada com mazelas visíveis na fotografia



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