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sábado, 25 de janeiro de 2014

António Maria Lisboa, Erro próprio. 1ª edição, 1962, Guimarães Editores

António Maria Lisboa

Erro próprio

[seguido de Operação do Sol e de Alguns Personagens]

Guimarães Editores

Prefácio de Mário Cesariny de Vasconcelos

Coleção Ideia Nova

1962

87 p.



Peça de Coleção



O “prefácio” de Cesariny é, na realidade, a reedição do texto de uma folha-volante distribuída em Maio de 1958, Autoridade e Liberdade São Uma e a Mesma Coisa, em resposta ao lema salazarista «liberdade suficiente – autoridade necessária».

Eis, pois, o mais alto valor do surrealismo em português. Se um manifesto dessa corrente vivencial existiu por cá, pode considerar-se-lo no verbo activo de Erro Próprio. A força poética de António Maria Lisboa, em 1977, aquando da reunião da sua Poesia num único volume, levada a cabo uma vez mais por Mário Cesariny, ainda fazia estragos entre os próceres da “democracia” nascente: não apenas o “director” da colecção que acolheu o livro – o obtuso e limitado E. M. de Melo e Castro –, mas também o editor!... (não se sabe se o Assírio, se o Alvim), fizeram imprimir junto com a ficha técnica notas em que, cada qual à sua triste figura, enjeitam a edição.


(citado de Frenesi)

E o António Maria Lisboa?

(Luiz Pacheco (ainda...) resiste - Entrevista de Guilherme Pereira)

O Lisboa era um espírito insubmisso. Eu dei-me mais com o Lisboa foi em Benfica, na Villa Anna, no Verão de 1950, antes dele ir para Paris a primeira vez. Ele foi dormir lá a Benfica uma ou duas vezes. Lembro-me que íamos a pé às tantas da amanhã, quando perdíamos o último carro do Arco do Cego para Benfica, que era à uma e meia... então íamos a pé por aí fora. A minha mulher, a Maria Helena, e os miúdos estavam em casa dos meus pais, em Bucelas, ao pé do Moinho, e eu ia dormir a Lisboa, em Benfica, por causa do clima húmido de Bucelas, que me provocava grandes ataques de asma. Em Benfica era assim: de um lado a Villa Ventura e, do outro, a Villa Anna, o nº 674, que era a casa dos meus avós, onde depois também foi viver, para o andar de cima, o meu tio e padrinho, o coronel Fernando António Gomes. Ainda lá estão as casas, eu julgava que não estavam mas ainda lá estão. Ali mesmo ao lado havia a família Lobo Antunes, viviam numa vivenda formidável, tapada por um muro muito alto... porque os Lobo Antunes de repente tiveram... foi um gajo que me contou... eles não falam nisso... o pai destes Antunes todos, o médico, morava numa travessa muito pequenina, num prédio antigo... comprou um bilhete no Natal e saiu-lhe a sorte grande... na altura era uma coisa enorme... e depois ele comprou a vivenda... eu soube isto por um tipo que também morava lá... a vivenda deles foi abaixo, abriram uma avenida... Bom, mas voltando ao Lisboa. Eu depois perdi com o contacto com o Lisboa, que só venho a retomar em Cabeço de Montachique estava ele internado numa casa de saúde. É aí que ele me entrega o Ossóptico e Erro Próprio, edições dele, feitas em Coimbra, quando ele esteve internado no Sanatório dos Covões. Distribuí aquilo em Lisboa, ofereci, vendi, vendi muito pouco, lembro-me que havia uma gralha no Erro Próprio, que eu emendei até com tinta verde, que era uma tinta que eu usava na altura. Depois editei-lhe Isso Ontem Único, três livros-plaquetes. Quando ele morreu tive muita pena… ninguém sabe o que é que daria o Lisboa 50 anos depois… a vantagem de morrer cedo e com uma obra que foi para o lixo... o que se aproveitou não é nada…

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