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sábado, 13 de outubro de 2012

A prisão do Dr. Domingos Arouca. Francisco Salgado Zenha (1ª edição) 1972

A prisão do Dr. Domingos Arouca
Francisco Salgado Zenha
1ª edição
Afrontamento
1972
36p + 2

(Livro apreendido pela PIDE em 1972 - consta da lista de José Brandão  )

Sobre a obra e o autor 

(http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2009/01/advogado-anti-fascista-defendeu-domingos-arouca.html)


A decisão do regime de Marcelo Caetano em libertar o Dr. Domingos Arouca, mantendo-o sob residência fixa em Inhambane, não se tratou de um gesto reconciliador nem tão pouco se inseriu no âmbito das tão propaladas reformas anunciadas por aquele que havia substituído Salazar na condução do Estado fascista. A medida surgiu na esteira de uma onda de protestos e de manifestações de solidariedade para com Arouca realizadas no estrangeiro.
Em atitude de protesto contra o prolongamento ilegal da sua prisão, Arouca fez uma nova greve da fome na prisão do Forte de Peniche nos dias 24, 25 e 26 de Dezembro 1972. Nesta sua atitude foi acompanhado por parte dos seus companheiros de prisão. Ao Dr. Arouca e aos presos que com ele se solidarizaram foram imediatamente aplicados castigos, incluindo o da suspensão das visitas, no meio de um clima altamente repressivo criado pela direcção da cadeia. Posteriormente, tendo-se agravado o seu estado de saúde, foi o Dr. Arouca transferido para a Prisão-Hospital de Caxias.
A greve da fome teve ampla repercussão no estrangeiro, tendo ocorrido quando era publicado em livro o processo do pedido de «habeas corpus» interposto pelo Dr. Salgado Zenha em face da prisão ilegal do Dr. Arouca. Com o título, A Prisão do Dr. Domingos Arouca (Afrontamento, 1972), o livro viria a ser apreendido nas livrarias e o seu autor, responsável pela edição, multado nos termos da nova Lei de Imprensa aprovada no contexto das pretensas reformas políticas de Caetano mas que na prática mantinha inalterado o status quo, em que a Comissão de Censura passou a designar-se de Exame Prévio, tal como a PIDE foi crismada de DGS e o partido fascista de Salazar, a União Nacional, passou a chamar-se Acção Nacional Popular.
Na obra, o advogado do Dr. Domingos Arouca sustentou que a prisão do nacionalista moçambicano era ilegal pelo “facto de não ter sido extensiva a Moçambique, onde foi julgado, a abolição das medidas de segurança.” Para Salgado Zenha, “tratava-se, pois, de uma medida discriminatória.” Lê-se no livro, “Domingos Arouca – condenado a quatro anos de prisão maior –, encontra-se na cadeia há mais de sete. Preso e julgado em Moçambique, expia a condenação a milhares de quilómetros dos seus – na Metrópole. O degredo já não existe nas leis portuguesas. Mas existe para Domingos Arouca. Pare ele e tantos outros – negros como ele”.

Francisco Salgado Zenha

Francisco de Almeida Salgado Zenha nasceu em Braga, a 2 de Maio de 1923, e veio a falecer em Lisboa, no dia 1 de Novembro de 1993.
Após a conclusão dos estudos liceais em Braga, onde se criou no seio de uma família católica, ingressa na Universidade de Coimbra, aí se licenciando em Direito.
Embora venha a dedicar-se, profissionalmente, à advocacia, destacando-se na defesa de presos políticos e de católicos críticos do regime e da figura que o personificava, António de Oliveira Salazar, a sua vida será, desde muito cedo, dominada pela intervenção política activa.
Aderindo ao Partido Comunista Português no início da década de 1940, torna-se, em
Dezembro de 1944, no primeiro aluno eleito presidente da Associação Académica de
Coimbra, de cujas funções virá a ser demitido em Maio do ano seguinte, pelo facto de essa entidade estudantil ter declinado, em Assembleia Magna, o convite feito pelo reitor para se deslocar a Lisboa a fim de agradecer ao presidente do Conselho a neutralidade durante a guerra.
Em finais de 1945, passa a ser responsável pela organização estudantil de Coimbra da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas e, nessa qualidade, participa nas reuniões que conduzirão, a curto prazo, à criação do Movimento de Unidade Democrática Juvenil – lançado, de facto, em Abril de 1946 e de cuja primeira comissão central fará parte.
Enquanto membro desse movimento oposicionista, é preso em 1947 e em 1949, a última das vezes no rescaldo das eleições presidenciais, pelo apoio prestado à candidatura do general Norton de Matos. Dois anos após a liberdade condicional, obtida em 1953, adere à Resistência Republicana e Socialista, criada por Mário Soares e por antigos companheiros do Partido Comunista Português, formação que havia deixado em 1949.
Gozando de liberdade efectiva a partir de 1958, volta, no ano a seguir, ao activismo político, ora como apoiante da candidatura presidencial do general Humberto Delgado, ora como subscritor de uma representação a Salazar, em que sugere ao presidente do Conselho que abandone o poder.
Na sequência do 25 de Abril de 1974, é nomeado ministro da Justiça (nessas funções, celebra o Protocolo Adicional à Concordata de 1940, pelo qual se consagra o divórcio no seio dos casamentos católicos, e dá impulso à figura do Provedor de Justiça).
Entre 1974 e 1982 integra a direcção do Partido Socialista (em cuja fundação, em 1973, havia participado, não sem alguma relutância) e assume a presidência do respectivo
grupo parlamentar.
Na obra escrita, notabilizou-se pela autoria de textos de carácter jurídico, mais especificamente, peças de processo, de que se destacam Universidade – Processo de Uma Expulsão Disciplinar (1967), O Direito da Defesa e a Defesa do Direito (em colaboração com Abranches Ferrão; 1971), A Prisão do Dr. Domingos Arouca (1972) e O Caso da Capela do Rato no Supremo Tribunal de Justiça (1973).
[Zambeze 08 Jan 2009]

Livro raro em bom estado. Miolo amarelecido pelo tempo


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