Pico na veia
Dalton Trevisan
2004
1ª Edição Brasileira
(não editado em Portugal)
Editora Record
Montagem da capa de Ricardo
2004
1ª Edição Brasileira
(não editado em Portugal)
Editora Record
Montagem da capa de Ricardo
Prémio Pessoa 2012
Extrato de recensão muito crítica de Almir de Freitas:
Em Pico na Veia, Dalton Trevisan exibe o lado mais simplório da fragmentação que tem caracterizado a ficção brasileira
Era uma vez João e Maria, personagens assíduos de um escritor de Curitiba que não gostava de dar as caras nem sair por aí dando declarações. A história é conhecida, ou melhor, são conhecidas na história do conto brasileiro contemporâneo as pequenas e sintéticas narrativas de Dalton Trevisan, quase sempre focadas em gente simples, de vidas atribuladas por coisas miúdas. Se não tinham nada de fulgurante – como de fato não tinham –, possuíam lá sua originalidade e ajudavam, com a sua simplicidade, a compor um retrato da diversidade literária do país. Entretanto, de algum tempopara cá e por razões ainda não devidamente estudadas, parece que algo desandou com o conto e as novelas derivadas de narrativas curtas, produzindo uma galeria de obras divididas entre uma certa tradição temática e algumas tentativas de inovação formal. Pico na Veia, novo livro do escritor curitibano, é mais do que sintomático desse fenômeno: é o limite do suportável de uma prosa que se mostra cada vez mais fragmentada, que se concede o aval de ser passada para o papel sem maiores labores do ofício de escrever.
A rigor, Pico na Veia não chega a ser um livro de contos. É, antes, um amontoado de micronarrativas, frases soltas, ruídos de diálogos, pedaços de silêncios com supostos subentendidos – tudo criando lacunas num mundo de lacunas, conhecidas da já vasta obra do escritor. É nela, espalhada um pouco em cada volume, que está a gente pobre, triste e doente como a de Mistérios de Curitiba(1968); os relacionamentos difíceis de A Guerra Conjugal (1969); as perversões sexuais e o bizarro cotidiano de Morte na Praça (1964) ou Pão e Sangue (1988). E aqui e acolá, as referências à cidade enganosa em que o escritor, “vampiro”, se esconde.
Raridade
livro em muito bom estado
Texto de Público 14/12/2012
Texto de Público 14/12/2012
Quando em Maio o escritor brasileiro Dalton Trevisan foi distinguido com o
Prémio Camões, o maior prémio literário de língua portuguesa, o júri não tinha
como o contactar por este viver praticamente enclausurado longe de qualquer
atenção mediática. Não foi por isso de estranhar que esta quarta-feira Trevisan
não tenha aparecido na cerimónia de entrega do prémio. No seu lugar foi a
editora.
Não gosta de dar entrevistas nem de ser fotografado e não é visto
habitualmente nas ruas. É assim que Dalton Trevisan é conhecido e já por isso em
Maio a questão de o escritor aparecer ou não nesta cerimónia tinha sido
levantada. O júri explicou na altura ser alheio a isso e que o escritor era
premiado pelo seu mérito e não em função de poder ou não aparecer para receber o
prémio.
No seu lugar foi Sonia Jardim, vice-presidente da editora Record, que há mais
de 30 anos edita a suas obras, e leu uma pequena mensagem de Trevisan. “Os
muitos anos, ai de mim, já me impedem de receber pessoalmente o prémio”,
escreveu o escritor, actualmente com 87 anos, referindo-se ao Prémio Camões, que
tem o valor de cem mil euros, como “o prémio dos prémios”. “Nunca jamais pensei
merecer tamanha distinção. A consciência das minhas limitações como escritor
proibiu-me sonhos mais altos. E agora, sem aviso, o prémio Camões”, continua na
sua mensagem.
À Agência Brasil, a editora disse que o autor de O Vampiro de
Curitiba (que passou a ser a sua alcunha) continua “activo” e está já a
preparar um novo livro que deverá ser lançado em 2013.
Dalton Trevisan, que nasceu em 1925 em Curitiba, é licenciado em direito e
foi depois de ter sido jornalista na área do crime e crítico de cinema que se
dedicou à literatura. Começou a publicar em 1945, apesar de mais tarde ter
renegado os seus dois livros de juventude: Sonata sempre ao Luar e
Sete anos de Pastor. Entre 1946 e 1948, editou a revista Joaquim, "uma
homenagem a todos os Joaquins do Brasil", por onde passaram os maiores nomes da
cultura brasileira.
Em 1959, lançou Novelas Nada Exemplares e recebeu o Prémio Jabuti da
Câmara Brasileira do Livro. Cemitério de Elefantes (Prémio Jabuti e
Prémio Fernando Chinaglia, da União Brasileira dos Escritores) foi uma das
primeiras obras do escritor editadas em Portugal, pela Relógio d’Água, em 1984.
Destaca-se também Noites de Amor em Granada e Morte na Praça
(Prémio Luís Cláudio de Sousa, do PEN Club do Brasil). Guerra Conjugal
foi transformado em filme em 1975. Só publicou até agora um romance: A
Polaquinha. Em 1996, recebeu o Prémio Ministério da Cultura de Literatura
pelo conjunto da sua obra. E em 2003 dividiu com Bernardo Carvalho o Prémio
Portugal Telecom de Literatura com o livro Pico na Veia. Recentemente
no Brasil publicou O Anão e a Ninfeta, obra vencedora do Prémio
Portugal Telecom deste ano na categoria de conto e de crónica.
Na altura em que o Prémio Camões foi anunciado, o júri justificou a escolha
escrevendo que Trevisan “significa uma opção radical pela literatura enquanto
arte da palavra”. “Tanto nas suas incessantes experimentações com a língua
portuguesa, muitas vezes em oposição a ela mesma, quanto na sua dedicação ao
fazer literário sem concessões às distracções da vida pessoal e social”, lia-se
então na acta. O presidente do júri, o escritor brasileiro Silviano Santiago,
evocou os contos de Machado de Assis e Edgar Allan Poe como antecedentes de
Trevisan no século XIX. "Ele vem dessa direcção e encontra, no século XXI, o
argentino Borges. Pega essa tradição e dentro dela é capaz de trabalhar de
maneira original." Chega a "quase um poema em prosa", exprimindo o quotidiano.
Um conto transformado em haiku.
O Prémio Camões, instituído por Portugal e pelo Brasil em 1989, é o maior
prémio de prestígio da língua portuguesa, no valor de cem mil euros. Com a sua
atribuição é prestada anualmente uma homenagem à literatura em português,
recaindo a escolha num escritor cuja obra contribua para a projecção e
reconhecimento da língua portuguesa.
Preço: 50€ (portes incluídos)
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