Lisboa
Norberto de Araújo
Edição s.d. (anos 50)
Ilustrações, capa e encartes de Maria Keil do Amaral
Entalhe na capa para visualização de ilustração de Maria Keil do fontanário do miradouro de São Pedro de Alcântara.
Edição do SPN Secretariado Propaganda Nacional (SNI).
Design típico de promoção dos valores culturais do estado Novo.
O SNP (SNI)
Fundado em Setembro de 1933, o Secretariado de Propaganda Nacional (SPN) foi um dos primeiros organismos do Estado Novo, com dependência directa do Presidente do Conselho. Salazarescolheu António Ferro para o dirigir, cargo que manteve até 1950. O desígnio do SNP era criar a imagem do regime, no interior e exterior país, ajudando à sua legitimação.
Jorge Ramos do Ó esclarece que "o órgão da propaganda apareceu, entre nós, preso ao propósito maior de esclarecer a obra realizada pelo Executivo. Mas o empreendimento ganharia outra dimensão quando se lhe prescreveu em seguida: ser capaz de integrar a população no «pensamento moral que deve dirigir a Nação»". O SNP devia criar uma realidade e formatar o país de acordo com essa percepção.
Chamando a si figuras das artes dos mais variados sectores, mesmo as não afectas ao regime, indicou-lhes os caminhos e as fontes de inspiração, com destaque para a História nacional, o folclore, a arte popular. Pretendia-se uma conciliação, expressa nas seguintes palavras de Ferro: "Ser modernos sem deixar de ser portugueses".
Na senda do que tinha feito a I República, aposta-se nos actos comemorativos de carácter histórico, como a Exposição Histórica do Mundo Português, que em 1940, na fase do avanço nazi, com a Europa em chamas, comemorava a fundação de Portugal e os 300 anos da independência face a Castela. Pelo meio, mostrava-se a extensão e unicidade do Império português.
Este marco maior na vida do SNP aconteceu com o organismo a mudar de nome para Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo (SNI), numa fase em que a palavra propaganda, com os regimes democráticos prestes a vencer o conflito, já não soava bem. O SNI passava agora a controlar também a Inspecção Geral de Espectáculos, o que o tornou responsável pela Censura. Numa altura em que esta apertava mais o cerco à livre expressão, Ferro dirigia o cinema, o teatro, espectáculos, rádio e imprensa. O que não dirigia, controlava.
A fase de maior harmonia, de consenso entre facções, era agora substituída por uma maior vigilância. Em 1948 Ferro vira nascer, finalmente, a Lei de Protecção do Cinema, onde se realça a criação do Fundo do Cinema Nacional. Só que esta medida, em vez de dinamizar o mercado cinematográfico nacional, contribuiu para o seu estrangulamento. Por esta altura o SNI começa a perder fulgor, sendo Ferro afastado em 1950. A ele sucederam António Eça de Queiroz, José Manuel da Costa e César Henrique Moreira Baptista. A função do SNI manteve-se, mas sem o mesmo vigor. Moreira Baptista, por exemplo, é indigitado em 1958, ano de grande contestação ao regime de Salazar.
A repressão e vigilância são as suas missões primordiais. No entanto, o cinema vai recuperando algum terreno. É nesta altura que diversos quadros da recém-criada RTP são escolhidos para bolsas no estrangeiro, ficando alguns conhecidos pela sua participação posterior no chamado "cinema novo" dos ano 60. É o caso de Fernando Lopes, Artur Ramos, Alfredo Tropa e José Fonseca e Costa. É também no início desta década que este organismo volta a mudar na sua orgânica, reforçando as componentes ligadas ao Turismo, em ascensão como fonte de receitas e cartão de visita do País. Assim ficaria até à sua extinção, com o 25 de Abril de 1974.
Fontes:
COSTA, João Benard da. "Histórias do cinema", IN-CM, Lisboa, 1991
"Dicionário de História do Estado Novo", direcção de Fernando Rosas e J. M. Brandão de Brito, Volumes I e II, Círculo de Leitores, Lisboa, 1996
Ó, Jorge Ramos do. "Os anos de Ferro", Editorial Estampa, Lisboa, 1999
Muito Bom estado. Como novo (pouco manuseado).
Marcas de humidade nas páginas de rosto e ante-texto.
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